31.12.07

 

Igreja Maltrapilha



22.12.07

 

O que é a vida?

Passando em revista textos via blogs que nos inspiram, me deparei com a postagem sobre ansiedade, escrito pelo Brabo em 30 de setembro de 2004.

E isso trouxe o seguinte comentário* do JUNIOR:

Ao perguntar a professora:

– O que é a vida?!…

Muitos hesitaram,
outros se calaram, mas um, de quem todos caçoavam, levantou o dedo e disse:

– A vida é um trem apitando na curva, acabou a curva acabou a vida.

Se calaram num silêncio insuportável…

* à época em que isso era permitido.

18.12.07

 

Jesus - continua radical?


Esse poster provocou protestos. De cristãos!

As chamadas do poster era para um evento patrocinado pelo Ministério chamado Santuário Celestial. No seminário se discute o Caráter de Deus. Imaginem o que aconteceu?

Até o local comprometido com o evento teve que ser trocado de última hora por outro 'mais secular'! Aparentemente porque lavar os pés de Osama era pr'além da conta.

Créditos artísticos para Justinen Creative Group. E fisgado do Random Reflections

E você? Qual o seu voto - 'radical e pisando fundo'[aperte 1] ou 'peraí'[aperte 2]?

Da esquerda para a direita: Angela Merkel - Primeira Ministra da Alemanha; Tony Blair ex da Inglaterra; Kofi A. Annan, ex- da ONU; Osama bin Laden; George Bush; Manmohan Singh - Primeiro Ministro da Índia; e Jiang Zemin - ex Presidente da China.

13.12.07

 

Lucas Mendes meets Schaeffer


É triste para muitos dos fãs de Francis Schaeffer a pecha de ser ele um dos grandes influenciadores da Direita Religiosa Americana (Religious Right), mãe dos Neo Cons e parturiente de George W. Bush (o atual). Essa visão - por mais que a gente não goste (estou falando por mim, of course) é compartilhada pelos da esquerda. Os da direita carregam-na como medalha - uma espécie de santinho.

Lucas Mendes descobre Francis Schaeffer através de seu filho Franky. E fica surpreso da força do falecido pai. E mais. Se encanta com o charme da comunidade L'Abri - o epicentro de seu ministério, fincado nos Alpes suiços, a uma hora de Lausanne. E se encanta com a repercussão da última arte do filho, o livro Crazy for God: How I Grew Up as One of the Elect, Helped Found the Religious Right, and Lived to Take All (or Almost All) of It Back.

Franky realmente é um artista. Ás vezes eu mesmo acho-o louco. Veja aqui. E é assim que ele vive: fazendo arte e artes. E se na arte expressamos sentimentos, paixão, alma e experiência, também é claro, subjetivamente interpretamos a vida e os fatos que a compõem e expressamos por final a nossa visão do mundo. Interpretamos para nós mesmos e para nosso público. E para fazer esse tipo de arte, realmente Franky tem o dom. E se hoje ele 'assina' Frank, em nada impede que continuemos a chamá-lo de Franky - pois na verdade ele é o Junior na história!

Não li o livro - ainda. Um grande amigo me presentou com um dos seus romances, há mais de dois anos. Chama-se Portofino - é um romance inspirado em fatos reais, ou seja inspirado na sua própria família saindo de férias, visto por olhos de um adolescente (o irmão caçula relatando).

Você que me lê, se quizer pode se tornar um grande amigo também, e me presentear com Crazy For God - sabe como é, estamos no Natal... Ainda acredito em Papai Noel!

Voltando à Suiça

L'Abri ganhou destaque na época da cultura hippie, no pré e pós Paris 68, no contexto da guerra do Vietnã, na força do LSD, nos anos em que Foucault se destacava, nos tempos em que Sartre era muito lido, e a guerra fria era uma realidade bombástica (e atômica).

Só quem tem 50 anos ou mais, entende n'alma do que estou a escrever. L'Abri era (ainda é - mas em diferente contexto), o que seu nome indica: um porto seguro para almas inquietas e angustiantes. E lá atracaram nesse período de efervescência Bob Dillan, o professor Timothy Leary, Mick Jagger e Volney Faustini - para mencionar pelo menos um brasileiro (pausa para risos).

Lucas faz um resumo muito limitado do que era L'Abri, apesar de ser (bem) mais velho que eu. Mas pudera, somente aqueles influenciados pela ABU, pelo Paul Mckaughan e por Ralph Carmichael (Nas estrelas vejo a Sua mão ...) saberiam que a Meca do Cristianismo se chamava L'Abri e estava a 100 quilometros do túmulo de Calvino. Villar Sur Hoemoz, para ser mais preciso.

Seu resumo é impreciso pela superficialidade da pesquisa. Cheguei lá no inverno europeu, nos primeiros dias de janeiro de 73. O primeiro cristão que encontro, me dá umas boas baforadas de cachimbo antes de me cumprimentar. Esse foi o primeiro de uma série de choques terapêuticos a me curar e fazer entender que havia vida cristã (e mais inteligente) fora do Acampamento Palavra da Vida. Eu e meu brazilian friend logo nos acomodamos num velho e enorme casarão de 4 andares, convivendo ali com a família residente, e mais de uma dúzia de estudantes e professores universitários (americanos, ingleses e uma australiana). Eram umas dez famílias ao todo, e perto de oitenta pessoas entre residentes e visitantes. E no meio deles estava o patriarca Schaeffer.

O ambiente era solto, leve e muito focado no entendimento da vida, do mundo e do significado de estar vivo e para os que tivessem decidido ser cristão - a razão de sua própria jornada. Sou grato - eternamente grato - pois se sou o que sou (com toda essa limitação que voces conhecem), e pela graça sobrevivente, devo a essas sementes cultivadas ao longo de praticamente dois meses de convivência e influência na comunidade L'Abri.

Certa noite jantamos na casa de Franky - ele tinha se casado fazia alguns meses. Não me recordo de nenhum exagero legalista, de nenhum procedimento eclesiástico fora dos cultos de domingos (com direito a um batismo e ceia - ministrados pelo próprio Schaeffer pai). Lembro-me do cuidado em não jogar papel na rua, de manter a casa aquecida à uma temperatura não exagerada (os suiços cultivam o uso de suéter em casa), de não abusar da neve nas brincadeiras enquanto limpávamos a calçada e as escadas da frente e da lateral.

Mas em tudo ficou marcado que o viver cristãmente tinha a ver com o coração, com a alma e com a sua mente - e muito pouco com restrições de corpo, de gestos, de trejeitos, body language, ou faz-de-conta.

Conheci Udo Middleman (genro do homem) de perto e fiz uma rápida amizade com Os Guiness - trazendo na bagagem, ao voltar para o Brasil, The Dust of Death autografado.

Uma barriga jornalística

Francis Schaeffer é muuuuuuito conhecido nos Estados Unidos. Na década de 70 seus livros vendiam centenas de milhares de cópias anualmente. E no Brasil apesar da pouca divulgação, alguns de seus livros já foram re-editados e ainda hoje são bem procurados. Estamos falando de mais de 30 anos - e pra quem não sabe o velhinho de cavanhaque morreu em 84.

Digo isso porque juntamente com C.S.Lewis (praticamente todo o native speaking conhece algum de seus escritos), e John Stott (ainda vivíssimo), Francis Schaeffer faz parte da elite cristã dos pensadores do Século XX!

Também em outro post desta singela página da blogosfera, identificamos que seu livro "O Deus que Intervém" é considerada a quarta mais importante literatura cristã do século!

E mais, a grande maioria dos analistas políticos atribui a Schaeffer o posicionamento assumido pelo partido Republicano, e com ele a America cristã. Ou seja, um dos manobristas doidos que levaram os USA para a beirada desse precipício (um abismo a sua direita praticamente sem volta). Para sua defesa menciono que historicamente Schaeffer sempre se manteve distante da maioria. Independentemente de ter conhecido Nelson Rodrigues ele também achava que toda a unanimidade é burra. Era comum ele mencionar que quando recebia pedrada dos dois lados do espectro (falando de liberais e fundamentalistas) era um bom sinal - indicava que ele estava certo. Outro traço característico de seu ministério foi a compaixão - ele se posicionava muito mais como evangelista do que teólogo.
O livro que não li e gostei

Sei que um de meus leitores me presenteará com o livro. E mesmo após sua leitura, não creio que concordarei com tudo. Digo isso pelas resenhas do Amazon e a mini-discussão no forum do livro. Mas creio que sua mensagem vem em boa hora, por ser uma boa auto-crítica, acidada e apimentanda como é seu estilo, para temperar a cada vez mais insulsa parada cristã- evangélica.

Por outro lado, me cheira um certo respeito à memória do pai - no sentido de resgatá-lo mais para o centro, onde ele sempre quis permanecer. Ele chega a mencionar que pouco antes de morrer de cancer, seu pai já estava desgostoso com o andar da carruagem evangélica e seus exageradamente destros cocheiros!

Um breve extrato

Em Lausanne (1974), tiramos de Schaeffer pai (como já postei) esses três extratos do seu forum:

1.Certamente, devemos ser muito cuidadosos em não cair na solução barata (aquela que parece tão fascinante em primeira instância) de tão somente levar pessoas a se decidirem [por Cristo] sem um conteúdo suficiente, e sem que elas saibam realmente sobre o que elas estão na verdade escolhendo.E como temos um conteúdo doutrinal forte, devemos praticar o conteúdo, praticar a verdade que dizemos acreditar.

2. Cristianismo demanda que tenhamos suficiente compaixão pra aprender as questões da nossa geração.

3. O verdadeiro cristianismo produz beleza assim como verdade, especialmente destacada nas áreas de relações humanas. Leia o Novo Testamento cuidadosamente com isso em mente; veja como repetidamente Jesus retorna a esse tema, assim como Paulo menciona-o também.


Creio que toda vez que associam o nome de Schaeffer com essa direita e com esses Republicanos, o homem lá no túmulo dá umas boas voltas ...

12.12.07

 

O Advento


O advento normalmente é deixado de lado com toda a sua simbologia cristã e tomado lugar pelo consumismo. O consumismo – no sentido fluído - passa a ser uma extensão da alma vazia, que tenta se preencher com a experiência da compra. É esse um dos lados negativos da comemoração do advento. Há muita pressão comercial, marketeira e empreendedora para tirar o máximo proveito dessa época, alavancado na data máxima do cristianismo.

É certo que a noite mais bonita que o mundo conheceu é a do nascimento do Salvador Jesus. Essa noite esplendorosa e fulgurante sobeja em adjetivos e descrições poéticas em tantos hinos como existem estrelas nos céus. Contrasta – essa noite que é a mais clara e alegre - com a tarde mais escura e triste do Calvário.

Os verdadeiros poetas e músicos cristãos encontram no advento o contexto perfeito para a arte sublime da exaltação do Natal, dando foco no bebezinho que nascia com esse propósito único. Mesmo culminando na cruz, a morte não seria o seu capítulo final. A esperança se revigoraria na ressurreição.

Uma das mais célebres canções de Natal, postada ontem, recebe hoje a grata ajuda de João Wilson Faustini. Pelo sobrenome, quem não sabe fica sabendo agora que sim, ele é meu tio. Tem aí uma historinha guardada em segredo por muitos anos. Como o meu tio era muito Caxias e produzia muita música, arranjo, letras e nas horas menos vagas ainda traduzia, algumas pessoas de influência viam nisso tudo um certo exagero. Muito do que era composto e colocado em partitura vinha com o seu nome no topo. A reação humana, quase que natural, foi a de olhar criticamente a autoria e não e a obra em si.

Para contornar essa resistência, em alguns casos o meu tio passou a assinar seus trabalhos como J. Costa (utilizando o sobrenome de solteira de minha tia). A aceitação dos trabalhos ganhou positivamente uma nova dinâmica. Daí que a tradução de Joy To The World por J Costa é também – e na verdade - de João Wilson Faustini!



CRISTO NASCEU

CRISTO NASCEU, NAÇÕES OUVÍ,
O VOSSO REI SAUDAI;
OS CORAÇÕES A ELE ABRI,
OH! TERRA E CEUS CANTAI,
OH! TERRA E CÉUS CANTAI,
OH! TERRA, OH TERRA E CÉUS CANTAI!

AO MUNDO VEIO O SALVADOR!
VÓS HOMENS, CELEBRAI!
FLORESTAS, RIOS E PRADO EM FLOR
CONTENTES EXALTAI, CONTENTES EXALTAI,
CONTENTES, TODOS, EXALTAI!

FUJAM PECADO, ESCURIDÃO,
ESPINHOS E TEMOR;
POIS ELE TRAZ A REDENÇÃO
E É NOSSO BENFEITOR,É NOSSO BENFEITOR,
É NOSSO,É NOSSO BENFEITOR!

ELE AS NAÇÕES GOVERNARÁ
COM GRAÇA DIVINAL;
GLORIOSO DOM CONCEDERÁ
DE GLÓRIA PERENAL, DE GLÓRIA PERENAL,
DE GLÓRIA, GLÓRIA PERENAL.


Joy to the World
Texto de Isaac Watts, 1719
Trad. J.Costa (JWF) 1969
Música atribuída a George Frederic Händel
(Somente as 4 primeiras notas são na realidade encontradas em "Lift Up Your Heads", um dos corais de "O Messias").

11.12.07

 

Isaac Watts


Para quem não é de São Paulo e por aqui não virá neste fim de ano, deixará de ver pessoalmente um espetáculo natalino nunca antes elaborado com tanto primor. Parece que se estabeleceu uma competição entre os grandes bancos da Avenida Paulista.


Parece que tudo começou com o Banco Boston - hoje vendido ao Itaú e atendendo como Personalité - que numa das esquinas do símbolo da cidade, ostenta uma grande agencia. Anualmente coloca uma bem decorada procissão de Papais Noéis , e de 20 em 20 minutos uma pequena multidão permanece imobilizada apreciando o show de Natal.


Neste ano, e quem passou pela Paulista no domingo sabe, são vários shows com música - seja ela ao vivo ou reproduzida. O espirito do Natal permeia a cidade. Muita gente tirando fotos, respirando o clima propício para a estação que não pode ser só de compras.


Um dos mais influentes musicistas cristãos foi Isaac Watts (nascido em 1674). É provavelmente um dos mais prolíficos autores de hinos, com um legado de mais de 500 (alguns estudiosos atribuem mais de 700) músicas sacras.


Entre elas:


When I survey the wondrous cross



When I survey the wondrous cross
on which the Prince of glory died
my richest gain I count but loss
and pour contempt on all my pride


Ao contemplar a rude cruz,
em que por mim morreu Jesus
minha vaidade e presunção
eu abandono em
contrição


Traduzido por Justus Henry Nelson, Manoel da Silveira Porto Filho, Werner Kaschel


Ele também é autor de JOY TO THE WORLD (uma das mais belas canções de Natal):



Joy to the world, the Lord is come!
Let earth receive her King;
Let every heart prepare Him room,
And Heaven and nature sing,
And Heaven and nature sing,
And Heaven, and Heaven, and nature sing.



Ouça aqui.

9.12.07

 

Não Matarás - o Evento


Fui assistir ao evento NÃO MATARÁS – A Viabilidade de uma cultura de paz, com a participação do ‘inquietante e lúcido pensador cristão Ed René Kivitz’ e o hoje escritor-roteirista, palestrante, pós graduado em antropologia, o ex-capitão Rodrigo Pimentel, da PM carioca e ex-integrante do BOPE.

Falar sobre violência, de uma maneira geral até que é fácil. Fazer simples comentários, descrições e pontuações são exercícios fáceis ao alcance de qualquer leitor de jornal e assíduo telespectador do Tadena. O desafio está em trazer uma palavra de entendimento e cotejá-la com passos práticos e focados para o cidadão comum. E foi neste aspecto que o encontro mais do que valeu e superou expectativas. Pudemos conhecer opiniões duras nos aspectos difíceis desse tema. O encontro foi uma iniciativa da Galilea e administrado pela equipe do grande Pavarini.

Ed René Kivitz

Iniciando a fala, Ed ao fazer referência à religião, traz Deus ao debate. Ao invocá-Lo chamamos a Suprema autoridade para nos dar uma base para a compreensão e do proceder para tratar da Violência.

A Teologia e a fé buscam a compreensão da vida. Todos nós fazemos Teologia a partir do momento em que nos colocamos a fazer perguntas. E há três grandes fundamentos na tradição judaico-cristã: O primeiro: Não Matarás; o segundo da lei do Talião: Olho por olho e dente por dente; e o terceiro por Jesus ao resumir seus ensinamentos no Sermão do Monte: vire (dê) a outra face para quem lhe agredir.

É do decálogo que tiramos o Não Matarás. Significa inicialmente que não é para construirmos uma sociedade que mata. Os mandamentos são a base ética para a construção de uma Nação. Os mandamentos foram dados para o povo de Israel imediatamente após a libertação de 400 anos de escravidão em seu trajeto para Canaã. Estava o povo de Israel no caminho da construção de uma sociedade e nação independentes. O decálogo traz as diretrizes para o grupo. Na dimensão pessoal é para não se fazer com suas próprias mãos a justiça. No individual a ordem é: não assassinarás. Os teólogos (tanto judeus como cristãos) dizem que assim colocado é mais bem compreendido, por ser possível tirar a vida de outro sem quebrar o mandamento. Por exemplo, na defesa legítima da sua prole. Apesar de ser uma questão mais complexa, é nesses casos que temos justificativa e autorização perante Deus.

Quanto à base de olho por olho e dente por dente diferente do que se pensa, não se trata de um incentivo ou uma autenticação para a vingança. No fundo é um palavra de contenção para a retaliação! Não é para se retribuir um aviltamento com uma ação que extrapole através do revide a própria agressão sofrida. Atua como um freio, e invoca a justiça. Uma medida para não se ir além.

Já em Jesus temos a chamada revolucionária de virar a outra face ... de amar o inimigo ... de abençoar quem lhe amaldiçoa ... Uma possibilidade muita remota para nós. Seria uma utopia? Há aqueles (os dispensacionalistas) que dizem que Jesus não esperava que isso fosse colocado em prática no mundo presente, reservando esse novo estado para o Milênio. Mas Jesus está falando que haverá sempre a quebra do mandamento, e que o freio não vai brecar e chegaremos ao ponto onde alguém tem que interromper o círculo vicioso da violência – e assumir o ônus ao travá-lo! Não importa o estilo do tapa que se leva – se com a mão aberta, com a palma ou com o peito (indo ou vindo da mão). O estilo da agressão ou sua forma, pouco importa. Quando se dá a outra face, estamos dizendo ao agressor: “aqui – em mim, a violência para”.

Na noite de hoje não estamos discutindo os criminosos que matam, mas sim a violência na sociedade e o freio à barbárie na sociedade.

Mas como construir uma cultura de paz?

Primeiramente com justiça – sistemicamente nossa sociedade mata. Não é só deles a responsabilidade, mas é sobre nós. Fomos nós que construímos uma sociedade que mata. Para a paz precisamos de justiça.

Em segundo lugar com legalidade. Não existe ninguém acima da lei. Ou se está sob a lei ou fora da lei. Weber corretamente disse: “Só o Estado pode usar a força para conter o mal – mas tem que fazê-lo dentro da legalidade”. O Estado age certo quando mata, desde que dentro da lei.

Em terceiro lugar, através da formação de uma consciência de paz. Nelson Mandela diz que ninguém nasce odiando o outro por causa da cor da pele, da classe social ... mas por que aprende a odiar.

Por isso proponho dois momentos. Um terapêutico – enfrentando o mal de maneira dura e legal, e o outro profilático – construindo uma sociedade mais justa e ensinando as pessoas a amar. Isso demora, pois tem que ser um ensino que é feito pelo amor. E devemos começar onde o nosso braço alcança – ou seja, iniciar com amor e amar aqueles que estão mais próximos de nós – a começar pela nossa própria família. Amar e perdoar – inicialmente os que estão mais próximos de nós e alcançando círculos maiores.

Rodrigo Pimentel

Apesar da população apoiar em 91% a ação da polícia do Rio de Janeiro nos morros e nas favelas cariocas, e com um placar anual de cerca de 1.600 mortes, a solução para a violência está no caminho contrário – ou seja quando há declínio da violência, observamos que a polícia mata menos. Para se ter idéia, se o índice de São Paulo é 18, o do Rio é 38 – ou seja mais que o dobro. A situação paulista é melhor.

Quando a polícia do Rio apresentou à Imprensa os assassinos do menino João Hélio – aquele que tinha ficado preso no cinto e foi arrastado pelo carro em fuga roubado da mãe, cinco jornalistas não se contiveram e furando o cordão de isolamento passaram a agredir os presos. Experientes jornalistas, com quinze, vinte anos de cobertura do crime – não conseguiram se conter. Emocionalmente abalados, partiram para a violência e agressão, possivelmente identificando no menino João Hélio seus próprios filhos e filhas.

Há hoje um código não escrito que atende por mandato policial. É uma autorização tácita para a tortura ou além. Há uma irresponsável transferência via procuração informal para que a polícia realize atalhos na lei e na justiça e acabe logo com esses problemas. A sociedade assim fecha os olhos e se torna insensível aos sempre presentes efeitos colaterais imediatos (morte e ferimento de inocentes – por exemplo).

Quando Tim Lopes morreu, após ter sido torturado por seis horas, a sociedade demandava uma reação dura – e quando da ação atabalhoada de captura de seus assassinos, um dos efeitos colaterais da ação policial foi a morte de um menino de 10 anos.

A OAB que hoje tem uma atuação fiscalizadora que suplanta a da Igreja Católica (comparativamente ao seu histórico exemplar durante a ditadura militar), demitiu o responsável de seu setor de Direitos Humanos por achar que é melhor não cutucar o problema. Ele queria denunciar os exageros da polícia nessa última ação que resultou na morte de 19 favelados. Todos eles mortos, estavam sem suas camisas – aparentemente para que os resíduos de pólvora não revelassem que foram mortes por execução.

No filme Tropa de Elite, a cena do Capitão Nascimento fazendo tortura, teve que ser bem ensaiada, pois a gente insistiu que tinha que ser feita sem ódio. Não é uma reação de emoção e raiva. Não há ‘baba’ – descaso ou deboche. É um procedimento normal e profissional. Capitão Nascimento é ao mesmo tempo vítima e algoz.

Se de um lado Tropa de Elite ganhou uma pecha de ser um discurso mais à direita – por aparentemente defender a polícia e seu rigor (e exageros) de combate ao crime, o outro filme que fizemos, o Ônibus 174, trata do seqüestro do ônibus, onde o criminoso Sandro Nascimento (propositalmente demos o mesmo sobrenome para o Capitão) sem pai, com a mãe morta quando ele tinha 9 anos, à facadas (que ele presenciou), criado pela FEBEM e Institutos – e ao final tendo matado a professora Geisa, recebeu no outro extremo a pecha de estar demasiadamente à esquerda, defendendo via compaixão a situação do criminoso.

Uma das cenas mais chocantes do 174, é que quando acontecem os disparos, o público que se mantinha hipnotizado acompanhando apreensivamente de perto os desdobramentos, ao invés de correr para longe dos tiros, se dirige para o centro da cena. Ou seja – era uma turba pronta para o linchamento.

Pegue Tropa de Elite. No Rio ao assistir em diferentes cinemas (de bairros pobres e ricos) a reação comum de aplauso após as cenas de tortura me deixaram abobado! Há uma intolerância generalizada de ódio à tirania do tráfico - tanto do rico - classe média e alto, como do pobre.

Só que o componente mais agudo nesse cenário todo, é o que chamamos de imprevisibilidade da polícia. Se a tirania é odiada, a polícia não tem tratamento diferente por causa da sua imprevisibilidade. Ou seja, ela não é confiável em suas ações e posturas.

Pudemos medir um fato interessantíssimo. Quando se coloca numa determinada favela uma lona de circo por 40 dias, a criminalidade despenca em 90%! Pouca gente levanta essa bandeira. No 'circo' acontecem eventos de artes, educação, recreação, música (com gente boa se voluntariando para dar shows). Ninguém fala disso!

A manobra da segurança infelizmente não usa ferramentas ‘adicionais’ ... Fica no vácuo. É importante notarmos que a ação enérgica em si não levará a lugar algum.

Com relação à tortura, há uma análise muito bem feita pelo Élio Gaspari ao retratar os para-quedistas franceses que atuaram na Batalha de Argel (nome do filme). Essa também ‘tropa de elite’ foi lutar na Argélia. O comando francês estava dividido – um general permitia a tortura, e outro a proibia. Só que essa questão sai literalmente do controle. Eles, que dez a quinze anos antes tiveram seus pais vitimados com tortura na mão dos nazistas na França ocupada, agora ocupando a Argélia repetiam os mesmos métodos dos antigos inimigos. Quando os fins justificavam os meios, a tortura passa a rolar solta. Esses mesmos combatentes, anos seguintes se rebelam contra De Gaulle, voltam para a França como revolucionários, e partem para ações subversivas de atentados à bomba e assassinatos. A mão dura do presidente francês é obrigada a mandar executar a nata do Exército de seu país. Esse é o maior argumento contra a tortura – pois foi a própria tortura que desconstruiu o Exército francês.

De elite do exército, a torturadores, a revolucionários, a rebeldes, a criminosos ... A tortura - decididamente não convém.

Perguntas e respostas

Evidencio duas respostas da hora do debate – apesar de todas merecerem relato.

Ao ser perguntado sobre como pode a Bíblia falar de paz e de amor, se o mesmo Deus foi extremamente belicoso e radical em guerras e extermínio de inimigos, Ed deu uma resposta bem clara e objetiva. Primeiro, destacou ele, somente em dois casos bem registrados no relato do Antigo Testamento é que Deus requer de seu povo uma ação extremada. São casos bem específicos e dentro de um contexto da história do povo de Israel que precisava construir uma nação e uma sociedade em meio a um povo bárbaro e odioso. E que precisava – como povo - ser preservado, porque de sua linhagem nasceria o Messias. Agora esse mesmo Deus, agora manifestado em Cristo, promulga a postura da outra face, da rendição e de morrer para não matar – e seguiu até a cruz para ser Ele mesmo morto e crucificado.

Já o Capitão Pimentel, ao ser perguntado sobre o contingente de cristãos no Bope, respondeu que hoje os evangélicos já participam com um terço do contingente ativo. Há no entanto alguns policiais e oficiais que após se destacarem, acabam saindo – sendo que alguns passam a ser pastores. Dois relatos adicionados à essa resposta, motivaram muita risada dos presentes.


Quando preso, o ‘meliante’ é perguntado: “Você prefere ser interrogado pelo policial católico ou pelo policial evangélico?” A resposta da escolha parece óbvia. O que os presentes não sabiam é que o preso, ao escolher o evangélico, ‘apanha’ tanto quanto (ou um pouco mais ...).

Outro relato tragicômico foi quando um dos oficiais evangélicos, após acertar com um tiro o criminoso, vai até ele para socorrê-lo e numa evangelização relâmpago convida-o a aceitar a Cristo – o que ‘prontamente ele faz’. Pois bem, o tenente moveu montanhas para que o seu batalhão (muito a contragosto) ajudasse no resgate do criminoso ferido. E com muito esforço conseguiu que o próprio helicóptero da polícia descesse para levar seu novo irmãozinho baleado ao hospital.


Repercussões e relatos adicionais o Fábio Davidson nos brinda aqui no Doxa Brasil e fotos aqui.

8.12.07

 

Um ano punk


Certamente este ano - como todos os que antecederam - foi punk em estilo, riqueza, amizade e realizações. Estou a sair dele mais maduro e completo. Mais elucidado. A escrita é terapêutica. E o que dizer de sermos lidos? Diria que é ainda mais salutar (se não à alma, ao próprio ego - que no fundo dela faz parte).


Mas o ano foi punk pela diversidade de coisas que aconteceram ou que pude fazer acontencer.

E nada de discursinho de auto-ajuda e fórmula pronta de sucesso. Tive meus altos e baixos, com grande freqüência na média. Mas o que vale na perspectiva do ganho, é a distância entre os extremos. E a punkcidade do gráfico é animadora! Percorrer extremos parece ser minha vocação de peixe-águia.

Destaco dois tipos de picos entre uma cordilheira de bençãos que me sopraram pela graça. Esses picos se repetem e são sempre um bálsamo.

A solitude é um prática que aprendi com mais intensidade ao longo do ano. É verdade que ainda é uma solitude pocket. Mas com certeza vai virar uma bolsa. Ao me ler e ainda mais ao comentar, cada um de vocês está me dando força adicional para manter esse exercício com disciplina e intensidade. É e será um bom motivo de compartilhar. Creio que é um lugar especial que precisamos frequentar com intensidade e profundidade.

A amizade sempre me foi uma constância. Amizades me cercam, me protegem e me salvam. Fui sempre abençoado por amigos. Os amigos são especiais ou os meus amigos são especiais. Talvez deva substituir o ou pelo e.

Ainda não consigo entender com clareza. Será que é pela ainda inconclusão do ano e das lembranças que esse período faz permanecer frescas em minha mente? Será que é pela percepção da maturidade pessoal (quis dizer idade, viu?), onde valorizamos o outro e somos mais débeis nos sentimentos?

Uma verdade sei, carrego amigos como medalhas conquistadas por bravura e atos insanos. E às vezes desesperados. Os amigos dão fruto em alegria, segurança, energia mental, esperança ... Os amigos provam que Deus existe e é um Deus de amor.

Ano punk que termina. Não menos abençoado, não menos alcançado pela graça, não menos vivido.

Olho para a frente na certa expectativa de que em 2008 repetirei as boas cordilheiras. E quando passar pelos vales sei que estarei acompanhado. Ele e você estarão comigo. Thanks!

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