19.6.07

 

Saindo da estrada mais percorrida


O que ocupa parte de meu tempo para reflexão e pensar (são 5:03 da manhã e já estou ruminando há duas ...), e que me desafia como cristão, são dois temas convergentes:

- O que devo realizar para contribuir para o Reino?

- Como fazer de modo inteligente e criativo para que perdure e dê frutos?


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Sei que no comentário abaixo (a vir) você poderá me lembrar: ser é mais importante que fazer. E antes que isso aconteça, eu quero esclarecer que a única coisa que me motiva a fazer algo em prol do Reino, é que já tenho sido além da conta. E não me entenda mal. O ‘tenho sido’ quer dizer tão somente: sei quem fui resgatado por Deus e alcançado por sua graça. E isso é tudo. Não precisa mais nada. Ou melhor, qualquer coisa além disso é um esforço maldito e não aceito.

O que está em jogo, portanto, é a conseqüência. A causa já foi diagnosticada. E aí? O efeito vem ou não vem?

De novo, não se trata de ativismo. E também não estamos ansiosos por fazer algo, no sentido de preencher uma lacuna. O que mais se tem é buraco! Qualquer tolice pode muito bem ser uma contribuição. Sabemos com muita clareza que muitos dos influentes líderes cristãos têm no pensar, a profundidade de um pires.

Por isso estou na sala – fazendo força, revirando livros, pesquisando, orando e lendo nas suadas páginas da Bíblia – para que minhas decisões sejam do núcleo. Contribuir para o Reino, de modo inteligente e criativo, e que perdure.

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A Poliane lá da Índia, com distância e fuso horário, está fazendo acontecer. Em poucos meses sua liderança na blogosfera vem se destacando. Tanto é que Lula foi visitá-la mas não conseguiu tirá-la de sua rotina.

Brabo, permanece no Monastério. Recluso, está fazendo acontecer.

São dois exemplos singelos. Vou pra praia sabendo que tudo tem que mudar.

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Trocadilho para quem sabe Inglês: Deep Shift. E quem é que está por traz? Brian Mclaren. Ele fala e escreve: Tudo tem que mudar!

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Descubro a pouco que M.Scott Peck faleceu aos 69 anos de idade, em 2005. Ele é o autor de uma obra singela e importante – uma leitura imprescindível e obrigatória. Você pode ir além. Mas comece pelo começo:

A Trilha Menos Percorrida (R$37,90 na Cultura).

16.6.07

 

Prêmio Aréte - 2007


A noite foi especial, mas nada de gala. Ontem foi a cerimônia do Prêmio Aréte.


Pela Editora Atos (ainda embrionário o projeto do mundo virtual - mas está no ar), duas premiações: Curso de Especialização em Teologia (Módulo 2) e As 10 Atitudes de Uma Mulher de Sucesso (melhora autora nacional). Este que lhes escreve foi lá receber o prêmio e as estatuetas pontiagudas (fotos prometidas).


Para os intenautas e íntimos da blogosfera duas curiosidades anotadas: a primeira, Ed René Kivitz ganhou prêmio com Outra Espiritualidade (Mundo Cristão). Todos que me leiem sabem da minha amizade e proximidade com o meu pastor.


A outra curiosidade, ficou na acirrada disputa na categoria tradução. Quem estava lá? Norma Braga e Paulo Brabo (!!!). Apesar de não ter lido o trabalho da ala feminina, estava na torcida pelo segundo, também meu dileto e próximo amigo. Tratava-se de texto de Brennan Manning. Ao final do embate, Norma "Flor da Obsessão" Braga faturou o prêmio!


Parece que teremos mais notícias aqui.


15.6.07

 

Editores Cristãos se reúnem


Estou participando do Congresso da ASEC – reunido com editores cristãos de diferentes editoras. Estou representando a Editora Atos, juntamente com Gary Haynes. Ontem aproveitei para apresentar Sinval Filho, que também integra a nossa equipe. A ATOS ainda está no mundo virtual, muito de leve, mas temos pesados planos (de espaço e de conteúdo, não de tutus ...).

Pois bem, a ASEC é a sucessora no apelido da ABEC – entidade da qual participei em sua fundação. Época do Seitiro e do Márcio, muito ativos. Outros que assinaram a ata de fundação, sem dúvida contribuíram. Mas à dupla dinâmica é quem acredito, devamos dar os créditos. Isso foi back in 88 ...

Hoje a discussão é a seguinte: se de um lado o mercado (pelo IBGE) cresceu, a literatura nem tanto. Muitas editoras fecharam nestes últimos 19 anos. O brasileiro continua sendo um leitor pobre (não pobre leitor). Os fatores que estão em jogo são: uma doutrina comumente superficial das igrejas, a liderança pastoral com viés e insegurança, o despreparo dos canais de distribuição e vendas, a falta de agressividade e competência por parte dos decisores (entenda-se as Editoras), valorização de outros meios e mídias ...
A discussão está tão somente começando. Mas acredito que seja séria – e é aí que eu me animo. Temos que transformar, temos que mudar ...
A foto tem tudo a ver, pois o diretor das lojas Laselva dos aeroportos apresentou o seu case. Percebi a similaridade da sua loja com as nossas: se ele consegue atender e vender rapidinho para os passageiros que vão embarcar, por que então nossas igrejas não seguem o modelo para suas livrarias internas?

Houve um grande incentivo para se ampliar vendas pelo canal chamado ‘geral’ – ou seja não é especificamente voltado para o segmento evangélico. Aproveitei para dar os meus pitacos. O cliente-consumidor permanece tão somente 11 minutos na livraria de aeroporto. Ele vai fazer uma compra rápida. Está com a sua atenção voltada para o relógio e seus compromissos (pegar o vôo, reunião de negócios, encontrar-se com alguém ...). Vi nisso um forte paralelo com as livrarias das igrejas. Uma grande oportunidade de se fazer mais do que benchmark e aprender com a Laselva, pois o cliente na livraria da igreja nem pode ficar (não consegue) os 11 minutos. Entre várias dicas que ele deu: tem que ser self-service, tem que expor o livro de frente (daí a capa é importante), e espaço é vital para transitar e ver as mercadorias.

Duas participações adicionais contrastaram entre si. De um lado o Paulo Teixeira da SBB mostrando uma ferramenta de alta tecnologia lançada no mercado como Libronics – uma biblioteca on-line com várias versões da Bíblia além de se colocar em paralelo me Grego, Hebraico ... E dá também para se acoplar uma biblioteca mediante down-load. É um recurso super moderno e a um preço acessível.

E de outro lado, Pavarini deu um panorama do mercado com seus inúmero desafios - desde a distribuição, passando pelo ponto de venda e abordando aspectos de preparo e incentivo à leitura. No fundo, com certeza, depende da atuação das Editoras que tem que vender! Veja o meu artigo aqui.

À noite assistimos o documentário Santa Cruz (direção de João Moreira Sales) e depois Paulo Romero e Israel Belo ajudaram na discussão de temas que se desdobraram com a realidade do crescimento evangélico na baixa renda.

9.6.07

 

Estranha Graça 2


Dois homens de fé

John Newton (1725-1807) comparece diante do Parlamento Inglês e dá seu testemunho vivido acerca dos horrores do tráfico de escravos, partindo da África para outros cantos do mundo. Seus conterrâneos têm participação direta nessa coisa insana. Ele mesmo, já há alguns anos, teria comandado a captura e seqüestro de centenas de pobres criaturas. Sua palavra é rica em detalhes e forte pela experiência pessoal.
* Ilustração de Jesus Polar

O ex-traficante de escravos, desta feita como pastor Anglicano, vem fortalecer e apoiar um movimento que salga a sociedade inglesa, na busca de coerência e consciência humana. O sopro de um vigoroso reavivamento se espraia nas diversas igrejas, influenciando homens e mulheres a demonstrarem em atos e ações a sua fé num Deus que vem resgatar o homem e o mundo que o cerca.
No ápice da discussão pública está seu dileto parceiro e irmão na fé, membro do Parlamento e mais importante combatente da causa abolicionista: William Wilberforce (1759-1833). Esse testemunho será um dos muitos recursos a serem usados por Wilberforce dentro do Parlamento inglês, até conquistar os corações e mentes de seus pares.

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Duas Conversões

O não tão jovem pastor vem para a cidade de Olney e assume o pastorado da singela comunidade local. Por causa de seu tempo no Continente Africano e a história de sua conversão, percebe-se que traz uma densa história percorrida na mais profunda e sombria escuridão da experiência humana. Ele teria sido um exemplo patente do que um Deus amoroso e misericordioso faz com pecadores, ao resgatá-lo numa situação de quase desilusão. Aprisionado e feito escravo, passado pelos horrores do abandono e da depravação humana, para em seguida ser duplamente libertado – de volta para a Inglaterra e para o Reino da luz. Mais tarde escreveria no épico hino: Eu cego estava, deu-me luz.

Seus sermões eram acompanhados com muito interesse, sendo chamariz para muitos que viriam assisti-lo aos domingos. Uma galeria precisou ser concluída na igreja para acomodar o rebanho que crescia.

Nesse meio tempo, em 1779 ele conclui os Hinos de Olney, onde encontramos uma das mais célebres e tocantes poesias de adoração, musicada por melodia folclórica escocesa. A Estranha Graça foi composta em 1772. Tudo indica que fez parte da mensagem pregada na passagem de ano sob o tema Revisão da Fé e Expectativas. John Newton permaneceu lá por 16 anos, quando é transferido com uma promoção para a cidade londrina, onde se tornaria o Reitor da Igreja Saint Mary Woolnoth (pastor principal). É lá que completaria sua jornada ministerial. Ao chegar na capital faz boa amizade com William Wilberforce.

Por outro lado, a conversão de Wilberforce não tem nenhuma crise nem grandes emoções. Acontece em sua longa viagem pela Europa em companhia de um dileto amigo de estudos – Issac Milner. Por mais de meio ano ambos estudam o Novo Testamento e acompanham a leitura de Ascensão e Progresso da Religião na Alma de Philip Doddridge (1702-1751).

Em uma só sentença traduzida dessa publicação – escrita em 1745 - percebe-se a sua consistência pois à época, a produção literária ainda era escassa. Como leitura complementar à própria Bíblia, tudo mostra ser este livro um valioso instrumento de crescimento espiritual, uma espécie de curso de amadurecimento cristão por correspondência.

A verdadeira religião é algo raro, se apresenta ao compararmos a sua natureza com a vida e o caráter dos homens à nossa volta.

(Tradução do primeiro parágrafo na introdução do primeiro capítulo.)

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A Influência

Acometido por uma profunda crise de consciência e perturbado pela lentidão das mudanças no Parlamento, o jovem político pensa em abandonar sua carreira e seguir para o pastorado. É nesse contexto que William conhece John em busca de aconselhamento. Por isso considera-se que a influência de Newton foi extremamente importante, pois encoraja o jovem Wilberforce a permanecer em sua vocação política, o seu verdadeiro ministério. É nesse contexto que Wilberforce é auxiliado com apoio, oração e amizade.

Sua luta em prol da abolição inicia-se em maio de 1789 com um vigoroso discurso no Parelamento. Em 1791 introduz o primeiro ato parlamentar para abolir o tráfico de escravos, derrotado por vasta vantagem na votação da Casa. Sua luta permanece ano após ano, até que em 1807 consegue, desta feita uma expressiva votação a favor (283 contra 16) aprovar o Ato pela Abolição do Tráfico Escravo (link em inglês).

O mundo teria perdido um pastor medíocre e ganharia um dos mais notáveis e exemplares políticos da história da Inglaterra e de toda a sociedade democrática!

Sua luta não se ateve somente à causa abolicionista. Ele foi radical na influência por honestidade, contra a corrupção e na melhora dos padrões morais e dos costumes de sua época. Ele assim resumiu seu chamado:


"God Almighty has set before me two great objects, the suppression of the
Slave Trade and the Reformation of Manners."

(Deus Todo Poderoso colocou diante de mim dois grandes desafios, a
supressão do Tráfico Escravo e a Reforma dos Costume
s).

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Comemoração

Este ano, no dia 25 de março passado, comemora-se os 200 anos dessa importante vitória parlamentar inglesa – com certeza o marco inicial que influenciou o mundo inteiro para, ao longo de quase todo o século dezenove, atender aos apelos do sentimento e consciência humana pela abolição total da escravatura.

É o Evangelho integral, resgatando o homem todo e todo homem.

5.6.07

 

Um monte chamado Caveira


Sabe quando você lê alguma coisa e, exatamente por saber que não bate certo, fica lhe incomodando por um bom tempo? Pois bem, trata-se de duas manifestações - que por envolverem aspectos da teologia, em muito me incomodou. De um lado uma reflexão pobre e superficial e de outro os usos e costumes que absorvem fatos históricos dando-lhes conotações ridículas de analogia e comparação.


Este último já mencionei em post anterior. Quando o Senador se penitencia de seu "Calvário", rouba de forma inoportuna um dos trechos mais marcantes e profundos do cristianismo, banalizando o âmago do Evangelho, que é o Cristo crucificado. O monte da crucificação recebia o nome de monte da Caveira - o Gólgota. E foi para lá que Jesus seguiu para completar sua missão. Na noite anterior Ele havia orado: "Pai se puder, passa de mim esse cálice ..." E em seguida completado: "Mas seja feita a sua vontade".

O Calvário não foi acidente em Sua vida. Nem foi tão pouco o resultado de uma decisão errada, de um descuido, de uma falha, de um escorregão ... A trilha do calvário era Sua por escolha. E por determinação própria! Era todo o sentido de estar lá, aos 33 anos. De se ter vindo ao mundo, de se ter nascido. Era sua missão - a morte era sua vida: morte de cruz e no monte da Caveira.

Erra - qualquer um de nós - que quiser comparar ou fazer menção, por maior que seja seu suplício e por mais forte que seja sua provação, e por mais dificil que seja a adversidade enfrentada, ao chamar o quer que seja de Calvário.

Calvário é outra coisa! É o ápice - o cume de uma jornada inimitável, única, singular e extraordinariamente impossível para os meros mortais, e que coube Àquele que não conheceu o que era mal, fazer-se passar pelo mal e abandonado na Cruz, tomar o seu e o meu lugar. Calvário é a soteorologia em êxtase - e todos os sentimentos humanos e todas as situações mundanas colocadas na mais baixa humilhação. Pois nada se compara a esse ato - e ninguém, em situação que for, poderá arvorar o seu sentido.

Sentido esse aliás que em outra simplória manifestação, o primeiro autor comparava o símbolo da cruz ou do crucifixo com a moderna cadeira elétrica. Ele pergunta:

como poderia, os séculos de história do cristianismo ter cristalizado para o
bem, um símbolo tão aterrorizante?
Engana-se agora pela comparação chula, pois o instrumento da morte não foi banalizado pela religião cristã. O que se enalteceu - e aí não importa se usado por católicos ou protestantes - foi novamente, o verdadeiro sentido da entrega de Jesus por toda a humanidade. O que se realça não é o madeiro, não são as traves sobrepostas em ângulo reto, nem tampouco o vulto nela pregado. O que se focaliza nesse símbolo é a humilhação das humilhações, num evento público e morfético - numa das mais cruéis e agonizantes práticas de castigo inventadas pelo homem, onde o Um e o Único se dá por sacrifício definitivo e final.

Charles Swindoll em AS TREVAS E O AMANHECER chama de "grandiosa obsessão". Jesus teria que passar por isso. Não seria um suicídio, mas também não seria um assassinato. O paradoxo e a loucura da entrega (ninguém a tira, eu a dou) no implacável e torturante madeiro Ele seguiu até consumar. E assim foram suas últimas palavras.

Para contrapor ao que uma crônica jornalística - de forma aparentemente inocente apresenta, estiquei minhas mãos para o excepcional texto acima mencionado. Um refrigério e um aprofundamento ao se acompanhar a ida solitária e determinada de Cristo para o Calvário e a crucificação, numa leitura prazerosa e edificante. Swindoll relata de maneira suave, porém cortante e definitivamente emocionante, os últimos passos de Jesus rumo à escuridão das escuridões. Em uma sentada percorri as últimas horas de Cristo, ao sair das três da manhã onde Pedro e os discípulos O abandonam, até depois dos 6 julgamentos e em seguida as 7 palavras da Cruz naquela tarde que se fez noite, e por fim chegando o Amanhecer.

Pincei - para nosso deleite, esta citação de BERNARD DE CLAIRVAUX (1091-1153) que abre o oitavo capítulo do livro:

Oh, sagrada Cabeça, agora ferida,
Curvada sob o peso do pesar e da vergonha,
Agora com escárnio rodeada
De espinhos, tua única coroa.
Oh, sagrada Cabeça, que glória,
Que abençoada até agora era tua!
Assim, embora desprezada e ensanguentada,
Eu me alegro em chamar-te minha.

3.6.07

 

Teto para o crescimento

O programa Milênio da Globo News trouxe David Lehmann – sociólogo especialista em assuntos da religião. Na entrevista, pontos interessantes (resumidamente) do que ele falou:

. Os evangélicos dificilmente passarão dos 20% na América Latina. Há um teto para o crescimento (!).

. Os políticos evangélicos não trazem conteúdo e tem o fisiologismo como característica maior.

. Gustavo Gutierrez se distanciou da sua própria Teologia da Libertação, quando percebeu a instrumentalização e o uso de expressões e termos com forte colorido marxistas.

. A Igreja Universal se tornou global. Na Europa ela alcança os imigrantes.

. A Renovação Carismática é uma força contrária e paradoxal dentro da Igreja Católica.

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