9.6.07

 

Estranha Graça 2


Dois homens de fé

John Newton (1725-1807) comparece diante do Parlamento Inglês e dá seu testemunho vivido acerca dos horrores do tráfico de escravos, partindo da África para outros cantos do mundo. Seus conterrâneos têm participação direta nessa coisa insana. Ele mesmo, já há alguns anos, teria comandado a captura e seqüestro de centenas de pobres criaturas. Sua palavra é rica em detalhes e forte pela experiência pessoal.
* Ilustração de Jesus Polar

O ex-traficante de escravos, desta feita como pastor Anglicano, vem fortalecer e apoiar um movimento que salga a sociedade inglesa, na busca de coerência e consciência humana. O sopro de um vigoroso reavivamento se espraia nas diversas igrejas, influenciando homens e mulheres a demonstrarem em atos e ações a sua fé num Deus que vem resgatar o homem e o mundo que o cerca.
No ápice da discussão pública está seu dileto parceiro e irmão na fé, membro do Parlamento e mais importante combatente da causa abolicionista: William Wilberforce (1759-1833). Esse testemunho será um dos muitos recursos a serem usados por Wilberforce dentro do Parlamento inglês, até conquistar os corações e mentes de seus pares.

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Duas Conversões

O não tão jovem pastor vem para a cidade de Olney e assume o pastorado da singela comunidade local. Por causa de seu tempo no Continente Africano e a história de sua conversão, percebe-se que traz uma densa história percorrida na mais profunda e sombria escuridão da experiência humana. Ele teria sido um exemplo patente do que um Deus amoroso e misericordioso faz com pecadores, ao resgatá-lo numa situação de quase desilusão. Aprisionado e feito escravo, passado pelos horrores do abandono e da depravação humana, para em seguida ser duplamente libertado – de volta para a Inglaterra e para o Reino da luz. Mais tarde escreveria no épico hino: Eu cego estava, deu-me luz.

Seus sermões eram acompanhados com muito interesse, sendo chamariz para muitos que viriam assisti-lo aos domingos. Uma galeria precisou ser concluída na igreja para acomodar o rebanho que crescia.

Nesse meio tempo, em 1779 ele conclui os Hinos de Olney, onde encontramos uma das mais célebres e tocantes poesias de adoração, musicada por melodia folclórica escocesa. A Estranha Graça foi composta em 1772. Tudo indica que fez parte da mensagem pregada na passagem de ano sob o tema Revisão da Fé e Expectativas. John Newton permaneceu lá por 16 anos, quando é transferido com uma promoção para a cidade londrina, onde se tornaria o Reitor da Igreja Saint Mary Woolnoth (pastor principal). É lá que completaria sua jornada ministerial. Ao chegar na capital faz boa amizade com William Wilberforce.

Por outro lado, a conversão de Wilberforce não tem nenhuma crise nem grandes emoções. Acontece em sua longa viagem pela Europa em companhia de um dileto amigo de estudos – Issac Milner. Por mais de meio ano ambos estudam o Novo Testamento e acompanham a leitura de Ascensão e Progresso da Religião na Alma de Philip Doddridge (1702-1751).

Em uma só sentença traduzida dessa publicação – escrita em 1745 - percebe-se a sua consistência pois à época, a produção literária ainda era escassa. Como leitura complementar à própria Bíblia, tudo mostra ser este livro um valioso instrumento de crescimento espiritual, uma espécie de curso de amadurecimento cristão por correspondência.

A verdadeira religião é algo raro, se apresenta ao compararmos a sua natureza com a vida e o caráter dos homens à nossa volta.

(Tradução do primeiro parágrafo na introdução do primeiro capítulo.)

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A Influência

Acometido por uma profunda crise de consciência e perturbado pela lentidão das mudanças no Parlamento, o jovem político pensa em abandonar sua carreira e seguir para o pastorado. É nesse contexto que William conhece John em busca de aconselhamento. Por isso considera-se que a influência de Newton foi extremamente importante, pois encoraja o jovem Wilberforce a permanecer em sua vocação política, o seu verdadeiro ministério. É nesse contexto que Wilberforce é auxiliado com apoio, oração e amizade.

Sua luta em prol da abolição inicia-se em maio de 1789 com um vigoroso discurso no Parelamento. Em 1791 introduz o primeiro ato parlamentar para abolir o tráfico de escravos, derrotado por vasta vantagem na votação da Casa. Sua luta permanece ano após ano, até que em 1807 consegue, desta feita uma expressiva votação a favor (283 contra 16) aprovar o Ato pela Abolição do Tráfico Escravo (link em inglês).

O mundo teria perdido um pastor medíocre e ganharia um dos mais notáveis e exemplares políticos da história da Inglaterra e de toda a sociedade democrática!

Sua luta não se ateve somente à causa abolicionista. Ele foi radical na influência por honestidade, contra a corrupção e na melhora dos padrões morais e dos costumes de sua época. Ele assim resumiu seu chamado:


"God Almighty has set before me two great objects, the suppression of the
Slave Trade and the Reformation of Manners."

(Deus Todo Poderoso colocou diante de mim dois grandes desafios, a
supressão do Tráfico Escravo e a Reforma dos Costume
s).

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Comemoração

Este ano, no dia 25 de março passado, comemora-se os 200 anos dessa importante vitória parlamentar inglesa – com certeza o marco inicial que influenciou o mundo inteiro para, ao longo de quase todo o século dezenove, atender aos apelos do sentimento e consciência humana pela abolição total da escravatura.

É o Evangelho integral, resgatando o homem todo e todo homem.

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