5.6.07

 

Um monte chamado Caveira


Sabe quando você lê alguma coisa e, exatamente por saber que não bate certo, fica lhe incomodando por um bom tempo? Pois bem, trata-se de duas manifestações - que por envolverem aspectos da teologia, em muito me incomodou. De um lado uma reflexão pobre e superficial e de outro os usos e costumes que absorvem fatos históricos dando-lhes conotações ridículas de analogia e comparação.


Este último já mencionei em post anterior. Quando o Senador se penitencia de seu "Calvário", rouba de forma inoportuna um dos trechos mais marcantes e profundos do cristianismo, banalizando o âmago do Evangelho, que é o Cristo crucificado. O monte da crucificação recebia o nome de monte da Caveira - o Gólgota. E foi para lá que Jesus seguiu para completar sua missão. Na noite anterior Ele havia orado: "Pai se puder, passa de mim esse cálice ..." E em seguida completado: "Mas seja feita a sua vontade".

O Calvário não foi acidente em Sua vida. Nem foi tão pouco o resultado de uma decisão errada, de um descuido, de uma falha, de um escorregão ... A trilha do calvário era Sua por escolha. E por determinação própria! Era todo o sentido de estar lá, aos 33 anos. De se ter vindo ao mundo, de se ter nascido. Era sua missão - a morte era sua vida: morte de cruz e no monte da Caveira.

Erra - qualquer um de nós - que quiser comparar ou fazer menção, por maior que seja seu suplício e por mais forte que seja sua provação, e por mais dificil que seja a adversidade enfrentada, ao chamar o quer que seja de Calvário.

Calvário é outra coisa! É o ápice - o cume de uma jornada inimitável, única, singular e extraordinariamente impossível para os meros mortais, e que coube Àquele que não conheceu o que era mal, fazer-se passar pelo mal e abandonado na Cruz, tomar o seu e o meu lugar. Calvário é a soteorologia em êxtase - e todos os sentimentos humanos e todas as situações mundanas colocadas na mais baixa humilhação. Pois nada se compara a esse ato - e ninguém, em situação que for, poderá arvorar o seu sentido.

Sentido esse aliás que em outra simplória manifestação, o primeiro autor comparava o símbolo da cruz ou do crucifixo com a moderna cadeira elétrica. Ele pergunta:

como poderia, os séculos de história do cristianismo ter cristalizado para o
bem, um símbolo tão aterrorizante?
Engana-se agora pela comparação chula, pois o instrumento da morte não foi banalizado pela religião cristã. O que se enalteceu - e aí não importa se usado por católicos ou protestantes - foi novamente, o verdadeiro sentido da entrega de Jesus por toda a humanidade. O que se realça não é o madeiro, não são as traves sobrepostas em ângulo reto, nem tampouco o vulto nela pregado. O que se focaliza nesse símbolo é a humilhação das humilhações, num evento público e morfético - numa das mais cruéis e agonizantes práticas de castigo inventadas pelo homem, onde o Um e o Único se dá por sacrifício definitivo e final.

Charles Swindoll em AS TREVAS E O AMANHECER chama de "grandiosa obsessão". Jesus teria que passar por isso. Não seria um suicídio, mas também não seria um assassinato. O paradoxo e a loucura da entrega (ninguém a tira, eu a dou) no implacável e torturante madeiro Ele seguiu até consumar. E assim foram suas últimas palavras.

Para contrapor ao que uma crônica jornalística - de forma aparentemente inocente apresenta, estiquei minhas mãos para o excepcional texto acima mencionado. Um refrigério e um aprofundamento ao se acompanhar a ida solitária e determinada de Cristo para o Calvário e a crucificação, numa leitura prazerosa e edificante. Swindoll relata de maneira suave, porém cortante e definitivamente emocionante, os últimos passos de Jesus rumo à escuridão das escuridões. Em uma sentada percorri as últimas horas de Cristo, ao sair das três da manhã onde Pedro e os discípulos O abandonam, até depois dos 6 julgamentos e em seguida as 7 palavras da Cruz naquela tarde que se fez noite, e por fim chegando o Amanhecer.

Pincei - para nosso deleite, esta citação de BERNARD DE CLAIRVAUX (1091-1153) que abre o oitavo capítulo do livro:

Oh, sagrada Cabeça, agora ferida,
Curvada sob o peso do pesar e da vergonha,
Agora com escárnio rodeada
De espinhos, tua única coroa.
Oh, sagrada Cabeça, que glória,
Que abençoada até agora era tua!
Assim, embora desprezada e ensanguentada,
Eu me alegro em chamar-te minha.

Comments:
Os símbolos mencionados são preservados e há uma persistência em mencioná-los. Ele estão imortalizados e as pessoas sempre estarão voltando a eles, de uma forma ou de outra.
Persisto em vir aqui, ler o bom material que você costuma produzir e manter uma amizade antiga e simples. Também quero manter meu apoio a quem me conduziu à blogosfera. Não que você precise disso.
 
gostei muito...
 
muito bom...
 
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