12.2.06

 

Salomé e os blogs


Um bom amigo, de genuíno sangue irlândes, orgulhosamente fã de Bono e do U2, e outras manias da Terra Verde resolveu me presentear o texto publicado pela Landy Editora (com tradução e concepção de Renata Maria Parreira Cordeiro).

Parece coisa moderna - ou pós-moderna. SALOMÉ foi escrita por Orson Wilde em 1891. Apesar de irlândes de nascença e como língua materna o Inglês, a peça foi escrita originalmente em francês. Acredito que o ato de blogar é idéia genuinamente judia - se não vejamos:

Neste trecho, eles estão discutindo no palácio acerca de João Batista, preso há seis meses, e Herodes se recusa a entregar o homem de Deus aos judeus...

UM JUDEU
Realmente senhor seria melhor entregá-lo a nós.

HERODES
Basta. Já vos dei a minha resposta. Não vo-lo quero entregar. É um santo homem, é um homem que viu Deus.

UM JUDEU
Impossível. Ninguém viu Deus desde o profeta Elias. Ele foi o último a ver Deus. Hoje em dia, Deus não se mostra. Esconde-se. E por isso, há grandes desgraças na região.

UM OUTRO JUDEU
Na verdade não se sabe se o profeta Elias realmente viu a Deus. Talvez tenha visto a sombra de Deus.

UM TERCEIRO JUDEU
Deus nunca se esconde. Sempre se mostra, e em todas as coisas. Deus está no mal e no bem.

UM QUARTO JUDEU
Não se deve dizer isso. É uma idéia muito perigosa. É uma idéia que vem das escolas de Alexandria, onde se ensina a filosofia grega. E os gregos são gentios. Não são sequer circuncidados.

UM QUINTO JUDEU
É impossível saber como Deus age, os Seus caminhos são muito misteriosos. Talvez aquilo a que chamamos o bem seja o mal, e aquilo a que chamamos o mal seja o bem. Não se pode saber nada. É preciso submeter-se a tudo. Deus é muito forte. Quebra a um só tempo os fracos e os fortes. Não se importa com ninguém.


Fonte:Salomé por Oscar Wilde - Landy Livraria Editora e Distribuidora Ltda.

Comments:
Os judeus eram prescientemente pós-modernos, e Wilde foi retroativamente acurado com relação à visão de mundo deles. O Talmude e a argumentação rabínica estavam de fato fundamentados no diálogo que pressupõe a era dos blogs: opinião, comentário, direito a tréplica e assim por diante.

Permita-me então discordar de você, apenas para manter a conversa andando.
 
Brabo, vc tem todo o direito de discordar e se manifestar. Always

Mas permita-me discordar de vc no ponto inicial - uma vez que não há discordância e sim concordância!

Na verdade vc está concordando comigo: aquilo que a cultura judaica traz consigo é diálogo e abertura pra discordância e opiniões. Mas se vc não concorda com aquilo que acho que é concordante, por favor, feel free pra discordar ... he he
 
Concordo com tudo, Volney, só discordei da boca para a fora pra manter o nosso diálogo num saudável nível rabínico e evitar a rasgação.

Por falar em diálogo, é sábido que o [saudável] método judeu de se responder a uma pergunta é fazendo outra pergunta em cima da que foi feita. Jesus usou esse método mais de uma vez.

Certa vez, indignado com isso, um sujeito perguntou a um rabino:

- Escuta aqui, porque vocês judeus sempre respondem uma pergunta com outra pergunta?

E o rabino respondeu:

- E por que não?
 
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Você tem uma forma melhor para me sugerir?
 
Se eu tiver, você está disposto a ouvir ou ler?
 
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