12.4.09
Emaús - I
Uma das mais tocantes narrativas encontradas nos Evangelhos, trata do dia de hoje (no sentido em que celebramos a Páscoa e a ressurreição). Jesus encontra-se com dois dos discípulos do grupo dos 70. Ou seja eram próximos a Ele mas não participavam do círculo íntimo dos doze.
Ambos caminhavam confabulando acerca dos últimos dias. Parecia a seus olhos que a história construída por Jesus terminara num anti-climax. Um esforço institucional-religioso havia dado um golpe mortal ao movimento do Nazareno.
As autoridades e os sacerdotes miraram fundo, para extirpar a raiz dessa desordem com caras de revolução. É claro que houve manipulação e traição - uma conspiração tinha sido construída nos bastidores desde os primeiros sinais de milagres. E os fatores se conjugavam em perfeita harmonia - o próprio Cristo daria a Sua vida (ninguém iria tirá-la de Si). Mas as conjecturas teológicas ficam para os apêndices. Voltemos à narrativa.
Jesus se aproxima dos dois sem ter sido percebido por eles como o Ressurreto. Era um estranho. E acompanha o jeito oriental com que confabulam - estavam excitados, aborrecidos, preocupados e com uma melancolia profunda. Tanto é que Jesus os provoca: "Que é isso que vos preocupas ..."
Surpresos por esse estranho não estar a par do assunto do momento, ambos param a caminhada, e se voltam para Jesus - sem o reconhecer como tal, entristecidos.
Poderia essa história terminar num esvaziamento frustrante? Teriam as autoridades conseguido colocar um fim na grande esperança messiânica? E os tempos de milagres, sinais e ensino?
Aquela esperança já havia penetrado pelas feridas curadas, se alimentado em multiplicações de pães e peixes. A esperança tinha dado vistas a cegos, tinha firmado pés de coxos, tinha se cicatrizado nos leprosos ... E a esperança tinha sido racional também, quando as Escrituras foram lidas e explicadas de maneira livre e aberta a todo que Lhe emprestara ouvidos para ouvir, e coração para crer.
Esses discípulos tinham seus olhos como que impedidos de reconhecer ao mestre. Mas tudo indica que em boa parte de Seu tempo ministrando - esse mesmo fenômeno se perpetuava de maneiras distintas. Nas vezes em que explicava as Escrituras, profetizava o que iria de fato acontecer (morrer e ressuscitar), antecipava o Seu caminho que seria primeiro de cruz e só depois de coroa. Primeiro como servo e sacrifício e depois como Senhor. E com o entendimento embaçado, não compreendiam.
"Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel ..."
O golpe das autoridades - a seus olhos - teria sido fatal. A redenção tão esperada, impregnada na vida do judeu, desde a infância em suas primeiras orações que seriam repetidas diariamente até a velhice. Aquele que se esperava, seria a salvação de seu povo ...
Os primeiros paradigmas a serem quebrados da concepção judaica e antigo testamentária acerca da redenção estavam ali para serem finalmente explicados e desvendados. Não seria uma redenção meramente natural e física - de cativos políticos e dominados por povo pagão. Não seria uma redenção exclusivista e limitada. Não seria uma redenção para retornar de maneira desimpedida à religião institucionalizada da velha aliança.
A morte de Cristo, e sua ressurreição traria muito mais do que esperança terrena e física. Era a salvação com o resgate da raça humana - reconciliando consigo o mundo (II Cor. 5:19).
Comments:
<< Home
Volney,
Ontem no culto, preguei justamente sobre essa passagem das Escrituras em Lucas 24, onde fala sobre os discípulos de Emaús. Eles tinham uma expectativa política com relação a Jesus, assim como hoje muitos tem uma visão errada do Mestre. A Boa Nova do Evangelho é justamente essa que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. Parabéns pela linda postagem.
Abraço.
Postar um comentário
Ontem no culto, preguei justamente sobre essa passagem das Escrituras em Lucas 24, onde fala sobre os discípulos de Emaús. Eles tinham uma expectativa política com relação a Jesus, assim como hoje muitos tem uma visão errada do Mestre. A Boa Nova do Evangelho é justamente essa que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. Parabéns pela linda postagem.
Abraço.
<< Home