17.8.08

 

O Choro


Tem de todo o jeito, e é próprio de cada um. E vem nos mais incríveis momentos, pelas mais diferentes razões. Nasce como filho de uma multidão de pais. Fecunda-se no coração, sobe como um raio, inunda o cérebro de descontrole, deixa a boca trêmula, a expressão facial se retrai e lá vem os olhos a marejar.

Há o choro do desespero. Crianças carregadas por mães, tias e avós, fugindo do fogo, do incêndio, da destruição dos tanques, das bombas aéreas, e da morte.

Há o choro do nascimento. O bebê levou um tapa na bunda, carimbada pelo médico que certifica-lhe vida, e que mostra-se vivo: nesse berro infantil, desesperado na emissão e alegrado na recepção.

Há o choro da decepção. O abandono, a frustração, a mancada, a tristeza, a solidão e o desespero. Tudo toma conta da pessoa. São soluços quase que imperceptíveis, pois vão para o interior: um diálogo de afagos e racionalizações na busca inglória pela compreensão da alma humana. Quanto mais próximo, mais intimo, amigo e amado, mais nebulosa e difícil de entendimento. Há motivos que a própria razão desconhece.

Há o choro da compaixão. Jesus viu o que o pecado havia feito com a humanidade. A morte levava um amigo. A multidão caminhava como rebanho sem pastor. Havia necessidade de redenção. Só o amor genuíno e desprovido de egoísmo pode sentir compaixão – e daí chorar.

Há o choro da criança. Correu, perdeu o fôlego, ficou frustrado, quer reclamar e não consegue. Uma grande mistureba de sentimentos o faz se perder ao encontrar um adulto. Soluça em cambalhotas de expressão. Olho para trás, e dou risada.

Há o choro da comoção. É um estado de fácil influência e alta empatia. O sujeito recebe por transferência os sentimentos de um terceiro. Pode ser numa ficção ou numa situação real. Pode ser ao vivo ou por vídeo tape. Pode ser no teatro, no cinema ou na televisão (o mais comum). Pode ser uma só pessoa, pode ser a multidão. Não se preocupe. Logo, logo esquecerão. É superficial e influenciado. Não tem semente, não vai criar raiz. Vai morrer. A comoção morre.

Há o choro do arrependimento. Vem junto com o pedido de perdão, de desculpas, de um ‘errei’. O ego se murcha, a vaidade vai pro saco, a boca fica seca. É difícil, mas é necessário – mais do que boa convivência, é querer ficar bem com si mesmo, com sua consciência. E daí vem o doce após o amargo.

Há o choro da luta. Antes do fim. No meio da luta. Vem raiva, determinação, e gana. Há uma precisão imensa para se manter de pe´. Vem prontidão, determinação e energia. Persista – com ou sem choro – continue, continue, continue.

Há o choro da vitória. Quando se alcança o objetivo, quando se consegue, quando se vence. Os dedos longos passam pelos olhos, como que num cacoete impensado, pois as lágrimas não descem. As bochechas jogam a boca para baixo – mesmo enquanto se fala. A voz enrouquece, os lábios tremulam. É um misto de alegria, de efusiva comemoração, de agradecimento, de humildade frente aos esforços de tantos dias, meses e anos. Os competidores reverenciam. Enquanto canta o hino nacional – vai tudo bem até a primeira estrofe. Daí passa a olhar para baixo, soluçar e tapar o rosto com a mãozona de nadador. O público aplaude. Os brasileiros se emocionam (alguns choram também – o choro da comoção) e ganham num estalar de dedos (ou em 21,30 segundos) um novo herói: Cezão! O que chora o choro da vitória!

Comments:
Gostei do post, primo!

E sim, eu chorei ao vê-lo chorar ao som do Hino Nacional, hehehe

Boa semana pra você e seu pessoal! saudades! beijo carinhoso,
Neli
 
..e não é que eu chorei tb !!!! heheheee...


Volney, tu és um cronista de mão cheia !!


bjus e uma linda semana
 
Volney,

Cadê você?
Eu vim aqui,
Só pra te ver!

Bom fim de semana,
Nela
 
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