8.6.08

 

Cerimônia Ecumênica



Conto para você que a cerimônia do meu casamento foi um pouco tumultuada. Para atender os lados das famílias dos noivos – um longo diálogo promovido por mim e meu então futuro sogro, conciliaram interesses na Capela Anglicana (Saint Paul) com uma dupla ministração. De um lado estaria o bispo ortodoxo siriaco vindo de Campo Grande, assistido pelo padre local e de outro o reverendo Ivan Espíndola D’Ávila (de saudosa memória).

A Igreja Independente (IPI) à época tinha uma norma interna que proibia seus pastores de oficiarem casamentos em cerimônias ecumênicas. Todo o processo de negociação foi realizado para de fato agradar as famílias. Os noivos eram detalhe e como casal, parte passiva na equação. A exceção era minha participação atuando como embaixador.

- - -

Meu sogro era um negociador muito duro. Talhado pela experiência juvenil de um exílio, e tendo chegado com parcas economias no Rio de Janeiro no início da década de 50, foi galgando degraus em sua escalada industrial. Ora como químico, ora como desenvolvedor de processos e finalmente como inventor e empresário. Estabeleceu negócio em São Paulo, e dali ganhou o Brasil e além mares. Sua fábrica chegou a ser a maior fornecedora de faixa branca para pneus de carros na década de 60. Abastecia também os veículos com aqueles tapetes de borracha. E chegou a ser líder em fabricação de espumas e colchões de poliuretano por vários anos. Em 73 ganhou o prêmio de Industrial do ano, pela poderosa FIESP.

Ele manteve a tradição de sua família como Ortodoxo siriaco, ajudando a construir e a manter uma igreja no bairro de Mirandópolis, assim como foi ele que construiu sozinho o salão social na rua vizinha – palco de festas e encontros da comunidade local.

Era nesse contexto – do lado de lá - que a pressão de interesses precisava se aportar numa segura conciliação.

- - - -

Namorava com a Regina quando atendi o convite de sua família para ir a uma cerimônia na igreja local. Meu sogro participava como um de seus anciãos. Ao adentrar pela primeira vez na sua pequena igreja, fui surpreendido pelos dizeres inscritos no arco à minha frente: “Por que Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito”. Era um misto de alegria e de frustração. Me fora ensinado, e assim tinha aprendido: que esse versículo havia se perdido, juntamente com todas as Bíblias, logo no início da história do cristianismo. E em pleno século XX, cabia às organizações Billy Graham (com seus escritórios satélites nos quatro cantos da terra) a missão de resgatá-lo. Deveríamos utilizar todos os meios: folhetos, pregações na rua e em praças, rádio e televisão, e até os púlpitos protestantes. Essa mensagem deveria ser exclusiva dos evangélicos - estava lá sendo jogada na minha cara, fortalecida pelo cheiro do incenso.

Eu permanecia estarrecido, sentadinho na segunda fila, ouvindo a leitura do Novo Testamento – em especial as palavras de Jesus, na língua aramaica. Sem entender, mas arrebatado em espírito pela lição de que o vento sopra onde quer, na manifestação soberana e sobrenatural de Deus.

Foi mais uma fenda nas minhas fechadas convicções exclusivistas.

- - - -



Em suas memórias – documentadas num grosso caderno de folhas A4 datilografadas em espaço 2, meu sogro relata um pouco de sua ascendência. Conta de seu avô, um pároco local do norte do Iraque e sul da Turquia. As influência sobre seu pai e a mulher de fé que era sua mãe. Ele nasceu em Mosul – final dos anos 20 (há controvérsias). A foto que ilustra esta postagem demonstra a vitalidade da Igreja Siriaca Ortodoxa na sua cidade natal. Provavel que seja de antes da segunda guerra. Descubro inclusive (estaria no meu subconsciente?) que o atual patriarca é conterrâneo do falecido Sami – tendo nascido também em Mosul em 1933.

- - - -

Fruto de um esforço coordenado o almoço ontem foi um sucesso, apesar do horário. Eram quase seis horas da tarde. As filhas tinham viajado ao longo das noites anteriores para ser juntarem ao irmão – e na presença dos pais, comemorarem trinta anos daquela cerimônia ecumênica.

Comments:
Volney, meu querido! Eu estava lá! E pra tirar esta minha fama de "lousy" madrinha, deixo aqui, em primeiro post, as minhas felicitações.
De coração! Que Deus abençôe a sua união, lindo! Vocês são um exemplo nas nossas vidas!
Um beijo carinhoso,

 
Oi Volney !! ... 30 anos de casado ?? é isso mesmo ? que maravilha !! Chuvas de bençãos para vc e sua amada !!
Esse ano tb fiz 30 anos junto com minha benção, e olha que é uma "baita" benção!
Sabe, quando morava em SP tínhamos comércio de tecido na 25 de março ( na época que a 25 de março era uma rua de comércio de tecidos tradicional )e conhecemos e convivemos com muitos turcos e libaneses, assim como judeus tb, ortodoxos ou não, e sempre me maravilhei com a tradição e a fé desse povo lindo e amigo.
Receba meu carinho e meu abraço e transmita-os a sua linda esposa !!

Alice
 
Parabéns! Pelo jeito o anjo responsável pelos casamentos naquele ano, era mesmo dos bons. Dá mais uns abraços na Regina e diga que foram enviados daqui de Sorocaba.
 
Parabéns, meu caro confrade!
Que Deus continue a abençoar sua vida e sua família!
Abração!
 
Lou, E a Dedé fez barstidei dia destes ... Parabéns pra ela também.

Graças a Deus que nos mantém unidos e dependentes nEle e dEle.

Grato pela lembrança, Bó - vc sempre foi especial. E Alice vamos marcar aquele encontrão de blogueiros e malucos por Cristo.

E Fábio, confrade camarada - grato pelo carinho de sempre.
 
Parbéns, caro Volney,

lendo o texto quase não percebo que você está falando de suas próprias aventuras (te conheço, ainda, pouco). Já esperava a hora em que colocaria "extraído da biografia de fulano de tal".

Nada como a vida, um coração mole e uma linda mulher para nos ensinarem a arte do ecomenismo.

A expressão "sendo jogada na minha cara, fortalecida pelo cheiro do incenso" foi ótima!

Muitas felicidades para vocês dois nos próximos 30 anos!!!

Roger
 
30 anos de casado de Deus ?
poxa eu ainda não tenho isso de vida mas amém parabens
Deus abençoe

www.thepescador.blogspot.com
 
Oi Volney
É interessante a vida, quando estamos longe e não conhecemos o outro,fazemos apologia e polemizamos.Quando nos aproximamos do alguém e simplesmente o amamos, testemunhamos o Evangelho de Cristo.
É só isso.
Parabéns.
 
Volney

Quando eu digo para algumas pessoas que estou casado com a mesma mulher há 21 anos, muitos se surpreendem.

Eu não me surpreendo pelos seus 30 anos com a Regina, por isso não dou parabéns, apenas desejo que a benção de Deus permaneça nos próximos 30!

Forte abraço

Fábio
 
Gente
Grato pelos comments e manifesta�es ... passei uma semana daquelas - mas reli seus comentarios junto com a patroa umas boas vezes.

Valeu - e brigad�o!
 
Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?