14.4.08

 

Razão, pelo sim ou pelo não


Na correria do domingo de manhã consegui ler o Ferreira Gullar, em sua coluna dominical na Folha Ilustrada. Gosto do jeito que ele escreve. Temos literatos e jornalistas que honram a língua materna. Aprendo mais com eles. A vantagem de Gullar está em reunir os dois papéis.

Ele argumentava que não era um frasista, apesar de gostar dos aforismos. Numa de suas participações na Flip de Paraty (foto), ele soltou meio que sem querer: Não quero ter razão ... quero ser feliz. Com isso ele argumentava que quem permanece abraçado à sua posição, invariavelmente se afoga nas águas do conflito. E isso gera infelicidade.

Concordei, discordando. Ou discordei, concordando. Meu filtro tese/antítese me fez pensar assim: se ele tem razão de não ter razão, então ele não tem razão apesar de ter razão.

O que acabou me chamando mais a atenção, fazendo-me ruminar a respeito, foi a fala matinal do Ariovaldo Ramos neste domingo. Novamente voltava ao tema: a questão de quem tem razão nos conflitos. Abordava a qualificação de presbíteros, como líderes (é isso mesmo, hoje igreja batista tem presbíteros). Ele falava do ‘não brigar’ – ou seja, ir a extremos por causa de se ter razão. É bem isso: a questão de o cara não ser chegado a contendas, violência – ou seja, no lado positivo, ser amante da paz.

A síntese que faltava ao Gullar era nem a terra nem ao céu – e sim a sublime alternativa que reside em, mesmo tendo razão, não fazer dela a sua bandeira extremada de prevalência sobre o outro. Com qualquer uso de violência, agressividade ou mesmo no uso manipulativo de poder. E aí tem que saber dosar, para não se anular e saber influir para contribuir com a verdade – mesmo que seja a sua verdade. E conciliar isso sem ser piegas nem se auto anular.

A síntese portanto está no caminho iluminado do amor!

Comments:
Amigo Volney,

quanto a isso penso ser melhor não deixar as pessoas ao redor da gente com hematomas verbais só pelo prazer de se ganhar uma discussão. (O exagero do Gullar faz sentido por essas razões sanitárias).

Dosar o não se anular e saber influir é que são elas...

Abrçs,

Roger
 
O Zenon nos apresentou um escritor, conferencista e dirigente de uma associação de ajuda às crianças em risco (portadores de HIV e câncer) e seus familiares, chamado Gerald Jampousky, há bom tempo. Esse senhor, para quem dediquei uma comunidade no Orkut, posteriormente surrupiada, disse uma frase bem parecida com a do Gullar: "Prefiro mil vezes ser feliz do que estar certo", cujo sentido ensejava apegar-se à alegria, ao momento feliz em oposição a defender alguma tese só pelo prazer de prevalecer sobre o próximo, salvo engano, claro.
 
Ass: Lou Mello
 
Rapaz, ainda me pego querendo ter razão. Sabe, aquela coisa doida, aquela vontade tosca de sair "ganhando" em uma discussão, principalmente as de cunho teológico. Ah, mas tenho aprendido um pouco sobre não tentar resolver paradoxos, sobre o fato de que argumentar nem sempre é o caminho para se convencer e também que um momento de paz vale muito mais do que eu ter ou não a razão.

Gostei muito do texto. Acho que é por aí que devemos andar...

Até mais, Santo homem.
 
Roger Fraternus,
acertar na dose, só com muita sabedoria e estrada - eu creio. É isso mesmo.

Lou da Gruta,
Apesar de ter horas que queremos nos entristecer com os outros, o certo certo é isso mesmo - não ligar e abraçar a alegria do momento.

Humberto o Mineiro, é uma loucura mesmo querer resolver paradoxos ... melhor deixá-los e como bom mineiro saber a segunda hora que é sempre a mais oportuna.
Grato pelo santo ... he he
 
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