27.3.08

 

Morra de inveja


Pode espernear! Fique revoltado com o mundo, com o tempo, com seus pais, com sua escola, com seu trabalho, com seu tempo livre, com a falta de sorte, com o destino ... e mais o que você quiser escolher (sem blasfemar - é claro!).

Ontem certamente não foi seu dia. Ontem foi o meu dia!

Aquele que não sai de sua condição de mero espectador, de passivo observador, e que tão somente se dedica a ver a vida passar – não tem e nem terá o direito de reclamar. Não é a vida, não é o mundo – é a sua atitude!

Aqueles que como este que vos escreve, sai para a labuta diária, confiando que o
mundo inteiro vai conspirar a seu favor – e que não aceita que as coisas acontecem por obra do acaso, mas sim (na dúvida usar a Graça) por esforço e dedicação focada, e sabe que as circunstâncias podem e irão lhe reverenciar, até mesmo se inclinar e incondicionalmente se render para quem é ativo. E age, ao invés de reclamar ou mal dizer a luz do dia.

Meu querido e prezado leitor, quem sou eu para esnobar-me diante de tão carinhosa atenção que você me presta? Quem sou eu para sequer sugerir que tenho algo a mais ou que sou especial.

Somente um brasileiro está nessa condição tão especial, e tem o nome de Lula: nasceu no ângulo certo mirando com as nádegas o brilho lunar (e vice-versa, please!).

Acontece que dia desses, despretenciosamente adentrei o Sebo do Messias. No meio de uma prateleria um livro deitado e agonizante clamava por meu nome: "Volney, Volney". Voz rouca e ofegante, quase desfalece quando lhe seguro em minhas mãos. “Eu sabia – você estava aqui me esperando!”, logo retruquei. Em seguida ele desmaiou. Levei-o de imediato para o balcão e com umas passadas de pano ressuscitador percebi a capa piscar em minha direção. Genesis in space in Time, brochura, de Francis Schaeffer, edição de 1974. Paguei R$7,00 no caixa. Só que isso foi outro dia.

Pois bem, vamos para ontem.

Entro no Sebo Floresta, olho como quem não quer nada. Eis que também deitado e sufocado em embrulho transparente, me chamava com tanta ardor, que seu bafo marcava o plástico. "Tire-me daqui" pude perceber, depois da terceira vez. Sotaque bem lusitâno, voz forte porém apagada. Reclamei com o menino. "Onde já se viu!?" Ele logo respondeu: "É consignado". Paguei R$25,00 e levei-o a respirar o bom ar poluído da Praça João Mendes.

Morra de inveja, agora. Trata-se de S. Tomás de Aquino de G.K.Chesterton, edição portuguêsa da Livraria Cruz Braga, impresso nas grandes oficians gráficas: Minerva de Gaspar Pinto de Souza Sucrs, Lbda - v. n. de Falicão - 1945.

P.S. - Será que ainda dá tempo de você ser mais 'sortudo' do que eu? Veja aqui.

Comments:
Caro confrade,
Fui expressamente proibido pela minha cônjuge de passar a menos de 100 metros de qualquer sebo, livraria ou estabelecimento semelhante... rs...
É duro, principalmente quando passo por todos eles, na minha hora de almoço. Portanto, V. Sa. está intimado a entrar em contato comigo quando estiver na área, quem sabe tomamos um café.
Fui correndo conferir a minha versão do St. Thomas Aquinas, mas não tive a mesma sorte sua. Minha versão é nacional (LTR Editora - 2003).
Grande abraço!
 
Grande posta Volney. Cativante, engraçada e irónica, tal como a escrita de Chesterton.

Quanto é em euros 25,00 R$?

Abraço
 
ô meu! Ensinando o caminho para a molecada, hein? A melhor parte dos livros que ainda detenho foram encontradas em sebos. São Paulo é uma cidade rica nesse tipo de comércio, também, em quantidade e qualidade. Bons sebos nasceram e prosperam em todos os bairros da cidade e sempre é possível encontrar jóias como essas que você encontrou. Parabéns!
 
Volney

Vamos ver se tenho a sua sorte...fiz o pedido.

Me lembrou na minha única passagem por Montevidéu (1982), já na época era rato de sebo.

O que encontrei, e tenho até hoje foi o "Tractatus Theologico Politicus" do Espinoza numa edição inglesa (Trubner & Co) de 1862.
 
Fábio D - continue morrendo de inveja. Minha mulher, por enquanto pensa que Sebo é pra passar na bola de futebol.

Jô - vindo de ti, tal que me comparas a Chesterton - é demasiado elogioso. Obrigado. São 9 Euros, mas meu exemplar não está à venda.

Lou - Você sempre foi pioneiro nos caminhos dos conhecimentos. Eu sempre morri de inveja de suas preciosidades.

Adiron - Morro eu de inveja por essa ratada de Montevidéu.
 
Seu "sortudo"! Quem morre de inveja sou eu...

A única coisa de bom que já encontrei em sebo foi "Crime e Castigo" de Dostoievski, que não é lá tão difícil de se encontrar...

Meus Parabéns! Vc comprou o livro que a um tempo já estava de olho na Traça.com.br

Porém por ter eu um enorme prazer em Romances e Contos, vou comprar um do Padre Brown... =)


Abração Volney!
Fique na Graça!
 
Volney

Apesar da greve dos correios acabo de receber um pacotinho de Porto Alegre com o Chesterton.

Não poderia deixar de vir aqui e agradecer mais uma das suas preciosas dicas.

Abraços
 
Já passei sebo em bola de futebol... rsrsrs

Mas vamos ao que interessa... poh, dá pra sentir inveja mesmo... mas eu me aguento! Também tenho meus dias de bençãos inusitadas.

Bem, vou adicionar seu link entre os links do meu blog. Vc é tão sortudo que é capaz que isso aconteça sozinho, então eu me antecipo...rsrsrsr

Ah, sim! Mineiro e de Pouso Alegre. Conhece a cidade?

Abraços fraternos.
 
Volney

Volto aqui quase 1 ano depois para dizer que finalmente li o livro do Chesterton.

Concordo que seja uma preciosidade, mas cara, como o sujeito tem um texto chato...para ler suas parcas 200 páginas levei quase 2 meses.

Ah...em compensação achei "Vida e obra de Camões" do Wilhelm Storck, edição da Academia Real de 1897. Uma coisa maravilhosa.
 
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