25.1.08

 

Muito metido à besta


O cenário desta terça era o saguão de Congonhas, na ala menos agitada que imita uma praça de alimentação. A moça sentada na mesa à frente se deliciava com sua leitura. Chega ao pé da página e ri.

De pronto, me lembro do ano passado. Eu, de pé no Metrô observando outra garota lendo um livro do Rubem Alves. Sua expressão facial me compelia. Um misto de alegria e melancolia. O ato da leitura é uma experiência pessoal - a menina viajava além das estações. Isso era muito bonito. E ali no fundo do meu ser sentia inveja do autor que seqüestrava a moça com uma habilidade fluída e leve.

Um livro, uma música, uma obra só é completa se tocar pelo menos uma pessoa. Não se trata de quantidades. Isso mesmo, no plural. Para o artista ou escritor, um coração é mais do que suficiente. Já basta. A publicação do livro nada representa além de um objeto físico e tangível. Já o seu conteúdo ...

Os aeroportos têm se transformado em santuários de leitura. Apesar do barulho e da ansiedade do vai-não vai, você vê muita gente fissurada na leitura. Uma ligação muito legal com as letras. E nessa embarcamos nós também.

Voltando para o nosso mundinho aqui: eu e você gostamos de novidades. O saber nos interessa. A curiosidade, a sede, a fome – tudo pode ser saciado via internet. Nos plugamos e nos tornamos comunidade. É mais de um? Ok, serve! Mesmo que seja um simples par: este que vos escreve e vós que me lês.

Exatamente por isso, é que peço sua permissão para dividir este mérito revestido de culpa. Você cria em mim o sentimento de um grande escritor. Esgarço minhas emoções dedilhando pensamentos. E cá estou desnudo. Você tudo percebe, tudo vê. Mas antes você já foi tocado por minhas letras.

Se me meto à besta como projeto de escritor há mais de uma razão. No fundo partilho com você a responsabilidade por esse ato de loucura, tão somente porque houve uma revolução digital. Os portões escancarados libertaram uma multidão de loucos. São malucos binários, intercalando seus papéis, ora como escritores, ora como leitores.

No fundo sei que a coisa vem de pequenino. Freud me explicaria – dizem, mas não tenho certeza. Carrego essa mania de expressão desde que me conheço por gente.

Aos seis anos imitava o presidente Jânio Quadros, aos catorze integrava o elenco de Camelot como escudeiro de Lancelot, falando seis meras linhas em Inglês. Aos dezessete era o rei do “Atletinha” e aos dezoito – finalmente adulto, me metia a besta (santo besta) dirigindo estudos bíblicos, e pregando, e fazendo apelo. Sem me esquecer daquela ocasião na Catedral Evangélica, culto solene de domingo de manhã, eu à frente, de camisa vermelhona dirigindo corinhos e levando a ‘galera’ a bater palmas. Rompendo paradigmas. Você, de mais tenra idade, não imagina o significado. Mas era um confronto.

Algumas décadas passadas e ainda carrego essa mania. Dela não me libertei. E será que sou menos pretensioso com o blog? Ledo engano de quem assim pensa. Não faça por esperar, que posso lhe surpreender.

Para minha felicidade você me ajuda a não enlouquecer. Ou pelo menos controlar essa insanidade. Escrever é terapêutico. Soltar a alma é atender um chamado dos Céus.

É óbvio que tudo o que aqui faço, faço para ser lido. Mas existe algo mais profundo em minhas doidas expressões. Sou reflexo d’Aquele que me ama e me chamou. Me deu um nó tal, a ponto de meus sonhos, idéias, pensamentos, conclusões e escritos serem frutos de uma mesma raiz: o amor. Como sabemos, nós amamos porque Ele nos amou primeiro. Fui transformado.

Como tudo na vida só tem sentido se houver amor, aqui não poderia ser diferente (êta clichêzão).

E eis me aqui, mais uma vez abrindo a minh’alma. E em troca recebo seu amor, num simples ato de leitura. Sinceramente espero (e desejo, e me esforço) que você também receba o amor que brota em mim, quando escrevo.

Comments:
Recebo sem dúvida alguma!
PAra mim também é bom escrever.
Como dizes é terapêutico.
MAs as palavras para mim valem quando geram vida.
E isso acontece aqui contigo.
consegues passar tudo o que te vai sem amargura, sem ressentimentos, sem mágoas.
coisas rara nos dias que correm.
Continua que pelo menos a mim fazes-me bem!
Que continues a deixar-te usar por Aquele que tanto nos amou.
Abraços.
 
Eu recebo... =)
 
Não falei, Mariazinha? Que se ele escrevesse melhorava? Taí!
 
OI Volney !.. eu recebo muito mais , recebo alimento pra minha alma tb...adoro ler-te, e isso me faz bem porque encontro vida em tuas palavras.
abraços
 
Vocês são sempre mais carinhosos e gentis que minhas postagens.

Portanto, não deixem de passar por aqui e comentar. Sempre.

Grato
 
Ai, que meigo!!!
Tá bem, tá bem.
Eu recebo...
Mas se tentar vir beijando no próximo encontro, dou um safanão!!!
 
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