13.12.07

 

Lucas Mendes meets Schaeffer


É triste para muitos dos fãs de Francis Schaeffer a pecha de ser ele um dos grandes influenciadores da Direita Religiosa Americana (Religious Right), mãe dos Neo Cons e parturiente de George W. Bush (o atual). Essa visão - por mais que a gente não goste (estou falando por mim, of course) é compartilhada pelos da esquerda. Os da direita carregam-na como medalha - uma espécie de santinho.

Lucas Mendes descobre Francis Schaeffer através de seu filho Franky. E fica surpreso da força do falecido pai. E mais. Se encanta com o charme da comunidade L'Abri - o epicentro de seu ministério, fincado nos Alpes suiços, a uma hora de Lausanne. E se encanta com a repercussão da última arte do filho, o livro Crazy for God: How I Grew Up as One of the Elect, Helped Found the Religious Right, and Lived to Take All (or Almost All) of It Back.

Franky realmente é um artista. Ás vezes eu mesmo acho-o louco. Veja aqui. E é assim que ele vive: fazendo arte e artes. E se na arte expressamos sentimentos, paixão, alma e experiência, também é claro, subjetivamente interpretamos a vida e os fatos que a compõem e expressamos por final a nossa visão do mundo. Interpretamos para nós mesmos e para nosso público. E para fazer esse tipo de arte, realmente Franky tem o dom. E se hoje ele 'assina' Frank, em nada impede que continuemos a chamá-lo de Franky - pois na verdade ele é o Junior na história!

Não li o livro - ainda. Um grande amigo me presentou com um dos seus romances, há mais de dois anos. Chama-se Portofino - é um romance inspirado em fatos reais, ou seja inspirado na sua própria família saindo de férias, visto por olhos de um adolescente (o irmão caçula relatando).

Você que me lê, se quizer pode se tornar um grande amigo também, e me presentear com Crazy For God - sabe como é, estamos no Natal... Ainda acredito em Papai Noel!

Voltando à Suiça

L'Abri ganhou destaque na época da cultura hippie, no pré e pós Paris 68, no contexto da guerra do Vietnã, na força do LSD, nos anos em que Foucault se destacava, nos tempos em que Sartre era muito lido, e a guerra fria era uma realidade bombástica (e atômica).

Só quem tem 50 anos ou mais, entende n'alma do que estou a escrever. L'Abri era (ainda é - mas em diferente contexto), o que seu nome indica: um porto seguro para almas inquietas e angustiantes. E lá atracaram nesse período de efervescência Bob Dillan, o professor Timothy Leary, Mick Jagger e Volney Faustini - para mencionar pelo menos um brasileiro (pausa para risos).

Lucas faz um resumo muito limitado do que era L'Abri, apesar de ser (bem) mais velho que eu. Mas pudera, somente aqueles influenciados pela ABU, pelo Paul Mckaughan e por Ralph Carmichael (Nas estrelas vejo a Sua mão ...) saberiam que a Meca do Cristianismo se chamava L'Abri e estava a 100 quilometros do túmulo de Calvino. Villar Sur Hoemoz, para ser mais preciso.

Seu resumo é impreciso pela superficialidade da pesquisa. Cheguei lá no inverno europeu, nos primeiros dias de janeiro de 73. O primeiro cristão que encontro, me dá umas boas baforadas de cachimbo antes de me cumprimentar. Esse foi o primeiro de uma série de choques terapêuticos a me curar e fazer entender que havia vida cristã (e mais inteligente) fora do Acampamento Palavra da Vida. Eu e meu brazilian friend logo nos acomodamos num velho e enorme casarão de 4 andares, convivendo ali com a família residente, e mais de uma dúzia de estudantes e professores universitários (americanos, ingleses e uma australiana). Eram umas dez famílias ao todo, e perto de oitenta pessoas entre residentes e visitantes. E no meio deles estava o patriarca Schaeffer.

O ambiente era solto, leve e muito focado no entendimento da vida, do mundo e do significado de estar vivo e para os que tivessem decidido ser cristão - a razão de sua própria jornada. Sou grato - eternamente grato - pois se sou o que sou (com toda essa limitação que voces conhecem), e pela graça sobrevivente, devo a essas sementes cultivadas ao longo de praticamente dois meses de convivência e influência na comunidade L'Abri.

Certa noite jantamos na casa de Franky - ele tinha se casado fazia alguns meses. Não me recordo de nenhum exagero legalista, de nenhum procedimento eclesiástico fora dos cultos de domingos (com direito a um batismo e ceia - ministrados pelo próprio Schaeffer pai). Lembro-me do cuidado em não jogar papel na rua, de manter a casa aquecida à uma temperatura não exagerada (os suiços cultivam o uso de suéter em casa), de não abusar da neve nas brincadeiras enquanto limpávamos a calçada e as escadas da frente e da lateral.

Mas em tudo ficou marcado que o viver cristãmente tinha a ver com o coração, com a alma e com a sua mente - e muito pouco com restrições de corpo, de gestos, de trejeitos, body language, ou faz-de-conta.

Conheci Udo Middleman (genro do homem) de perto e fiz uma rápida amizade com Os Guiness - trazendo na bagagem, ao voltar para o Brasil, The Dust of Death autografado.

Uma barriga jornalística

Francis Schaeffer é muuuuuuito conhecido nos Estados Unidos. Na década de 70 seus livros vendiam centenas de milhares de cópias anualmente. E no Brasil apesar da pouca divulgação, alguns de seus livros já foram re-editados e ainda hoje são bem procurados. Estamos falando de mais de 30 anos - e pra quem não sabe o velhinho de cavanhaque morreu em 84.

Digo isso porque juntamente com C.S.Lewis (praticamente todo o native speaking conhece algum de seus escritos), e John Stott (ainda vivíssimo), Francis Schaeffer faz parte da elite cristã dos pensadores do Século XX!

Também em outro post desta singela página da blogosfera, identificamos que seu livro "O Deus que Intervém" é considerada a quarta mais importante literatura cristã do século!

E mais, a grande maioria dos analistas políticos atribui a Schaeffer o posicionamento assumido pelo partido Republicano, e com ele a America cristã. Ou seja, um dos manobristas doidos que levaram os USA para a beirada desse precipício (um abismo a sua direita praticamente sem volta). Para sua defesa menciono que historicamente Schaeffer sempre se manteve distante da maioria. Independentemente de ter conhecido Nelson Rodrigues ele também achava que toda a unanimidade é burra. Era comum ele mencionar que quando recebia pedrada dos dois lados do espectro (falando de liberais e fundamentalistas) era um bom sinal - indicava que ele estava certo. Outro traço característico de seu ministério foi a compaixão - ele se posicionava muito mais como evangelista do que teólogo.
O livro que não li e gostei

Sei que um de meus leitores me presenteará com o livro. E mesmo após sua leitura, não creio que concordarei com tudo. Digo isso pelas resenhas do Amazon e a mini-discussão no forum do livro. Mas creio que sua mensagem vem em boa hora, por ser uma boa auto-crítica, acidada e apimentanda como é seu estilo, para temperar a cada vez mais insulsa parada cristã- evangélica.

Por outro lado, me cheira um certo respeito à memória do pai - no sentido de resgatá-lo mais para o centro, onde ele sempre quis permanecer. Ele chega a mencionar que pouco antes de morrer de cancer, seu pai já estava desgostoso com o andar da carruagem evangélica e seus exageradamente destros cocheiros!

Um breve extrato

Em Lausanne (1974), tiramos de Schaeffer pai (como já postei) esses três extratos do seu forum:

1.Certamente, devemos ser muito cuidadosos em não cair na solução barata (aquela que parece tão fascinante em primeira instância) de tão somente levar pessoas a se decidirem [por Cristo] sem um conteúdo suficiente, e sem que elas saibam realmente sobre o que elas estão na verdade escolhendo.E como temos um conteúdo doutrinal forte, devemos praticar o conteúdo, praticar a verdade que dizemos acreditar.

2. Cristianismo demanda que tenhamos suficiente compaixão pra aprender as questões da nossa geração.

3. O verdadeiro cristianismo produz beleza assim como verdade, especialmente destacada nas áreas de relações humanas. Leia o Novo Testamento cuidadosamente com isso em mente; veja como repetidamente Jesus retorna a esse tema, assim como Paulo menciona-o também.


Creio que toda vez que associam o nome de Schaeffer com essa direita e com esses Republicanos, o homem lá no túmulo dá umas boas voltas ...

Comments:
Não ando mais a fim de comentar em lugar nenhum, mas você conseguiu me provocar com esse post. Acho que você anda muito saudosista. Onde já se viu falar em Schaeffer, nos dias presentes? Preste atenção, a turba quer Barrabas. Quanto a Jesus, crucifique-o logo e não encha o saco. E esse Lucas Mendes, teve recaída (se não for caída) nessa idade? Deve ser aquele ar poluído de New York fazendo mal, outra vez, como fez com o Francis que leu o comentário de Barth à carta aos Romanos, pouco antes de morrer, e declarou que nunca tinha lido nada melhor, na vida.
 
Ler-te sempre é uma dádiva !!
abraçosss
 
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