15.11.07

 

Conflito e pecado




Dentre as inúmeras lutas que travei em minha juventude, certamente a mais marcante foi contra o pecado. Era claro para mim, que meu maior conflito residia em minha alma. Os diálogos da mente, os pensamentos fugidios, as orações de clamor, leituras sem fim da Bíblia. Toda a minha intimidade - em suas boas horas, se preparava estratégica e operacionalmente para enfrentar o pecado. E seus deslizes.

A questão soteriológica estava calvinisticamente resolvida. A questão da santificação precisava volneyisticamente ser resolvida.

Essa luta a ser travada por mim e em mim, era a bandeira da hora. O grito de guerra vinha ao amanhecer, se entremeava com choros desesperados de derrotas, e no crepúsculo encerrava com rendição, confissão e clamor. Perdia a batalha para o inimigo e me rendia ao meu Rei. Essa noção da graça (graças a Deus) eu guardava comigo.

Watchman Nee estabelece de maneira brilhante as diferenças entre pecado e pecados. Pecado é um princípio que rege nossa existência. É como uma raiz fincada em nossas almas. Pecados são os frutos, os atos que brotam da nossa existência. Basta estar vivo que eles virão.

Como menino (e depois mais um pouco) travava essas lutas contra os pecados. Eles deveriam vir um de cada vez (no singular). Aí sim, no ‘mano a mano’ a gente brigava.

Inúmeras noites frustrado pela derrota, sem ter encontrado no por do sol a rendição, deixava minha alma a me remoer, impondo-me castigos psicológicos.

Doutrinariamente e pela fé, hoje discordo dos meus jovens anos e muitas de suas convicções, crenças e influências. Mas no cerne, bem lá no núcleo há convergência e concordância: quanto à questão do pecado, seu significado e todos os seus mais intricados aspectos. Mas não mais com relação à luta. Alguns anos depois, abandonei as armas de guerra, deixando de ser vital lutar contra o pecado.

Sem truques nem mágica.

Não se trata de truques, passes de mágica, estágios enaltecedores da perfeição, ou mesmo má teologia. A maturi-idade trouxe ‘maturidade’ (foi isso mesmo que quis dizer).

Ao longo dos anos fui percebendo que viver a fé e trilhar o caminho da graça, se faz olhando para frente. Aprendi que quando se luta, os músculos não podem ficar tensos – logo lhe dão cãibras. E no fundo a boa briga, já foi ganha. E quando tiver que enfrentar a mim mesmo, não será: num canto do ringue “Eu” e no outro canto “Eu mesmo”. A cruz já terá cuidado desses dois, e o que restar dele(s), Ele entra para tomar conta.

Aprendi que luta e fé não combina. Briga e descanso são antagônicos. Se tudo já tinha sido feito, por que tentar fazer novamente, e ainda por cima fazê-lo imperfeito?

Foi quando cresci no foco da dependência em Deus, no exercício da entrega, no descansar do domínio pelo Espírito Santo, no olhar posto em Cristo. Foi com a compreensão dos ‘considerando’, ‘identificando’, ‘transformando’ ... e outros tantos gerúndios que permitiram à graça tomar conta de mim. E encerrar de vez todas as minhas lutas.

Somente a consciência de que vital mesmo é a graça, e tudo o mais é barulho, nos salva de nós mesmos.

Comments:
O Ariovaldo levou umas oito horas para dizer a mesma coisa, outro dia. Vocês deviam conversar um pouco. Estou pensando, seriamente em preparar uma palestra com o tema Graça. De repente, algum desavisado pode me convidar, e incluirei essa sua última frase, com ou sem autorização e ainda deixarei todos pensarem que sou o autor.
 
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