16.9.07

 

Tema recorrente


Uma historinha:

A família acorda cedo, e em meio às pressões inerentes para não chegar atrasada, apressa seus membros a se vestirem, tomar café e ir para o carro. É um ritual, uma historinha se repetindo semanalmente. E herdada de pai para filho, três a quatro gerações – ao que nos consta.

Há uma ‘dificulidade’ enorme para coordenar a multidão de cinco pessoas – você incluso – para em seguida percorrer cinco minutinhos de carro, estacioná-lo e fôlego disfarçado, iniciar formalmente as suas obrigações dominicais.

Acontecia comigo – enquanto os filhos eram menores.
Lembro-me também, que quando criança, meu pai, por ser o Superintendente da Escola Dominical, se estressava conosco. Administrar cada segundo de maneira hercúlea para transformar nossa moleza-preguiça infantil em pontualidade na porta da igreja.

Os pais são o carimbo principal a deixar uma marca indelével nos filhos. A igreja realiza um papel secundário. Não tenho o que queixar dos meus pais – e espero (e assim observo) que meus filhos idem. É impossível comparar os papéis. A família é uma coisa, e a igreja outra. E é a outra que me preocupa.

Que influência adicional nossos filhos recebem? E o que continuarão a receber – independente de nossa atuação? Que ajuda – complementar, especial, extra ou adicional – nós pais, teremos? Qual então é o papel da igreja com relação aos pais? E aos filhos dos pais? A igreja de hoje, está cumprindo com suas funções?

Por favor! ‘Contextualização’ é uma resposta demais simplória. Muito limitada. Há algo além, muito profundo, porém ao mesmo tempo básico.

Quem está disposto a refletir?

- - - -

Por favor, me entenda. Se insisto nesta questão, é porque sei que há algo em ebulição. Respiramos o assunto via blogosfera, conversas de botequim, fofocas de telefone, corrente de e-mails e relatos de orações intimistas num quarto escuro.

Irmãos e irmãs estão inconformados com a Igreja de hoje. A de ontem carregava seus traumas, sua limitações e seus problemas da época. Uma já passou e a outra está aqui. E é a outra que me preocupa.

Há algo no ar que alimenta um confronto, ou até mesmo, quem saiba uma ruptura. A decisão, apesar de pacientemente postergada, não garante que se sustente inerte.

É claro que na órbita macro estamos impotentes. O que fazer do Brasil, com Renan? Ou da nação Corinthiana, com Dualibi? Esses dois importantes exemplos – por mais sérios e profundamente arraigados à nossa esfera emocional, se apresentam de maneira grandiosa demais para nós.

Mas o que dizer da órbita pessoal? Como tratar as preocupações que deságuam no foro da decisão individual – aquelas que envolvem a sua pessoa, a sua família, seus filhos, o seu micro universo?

Há uma dicotomia clara e preocupante do mundo real (com suas pressões, diversidades e velocidade) e o mundo ideal e dominical. É abismal o que separa o resto da semana com o chamado dia do Senhor.

Estou aqui criando uma analogia, onde o domingo representa a nossa fé e o que nutrimos dela e para ela – de maneira individual e familiar. E os dias úteis – incluindo o sábado do lazer – representando a prática. Envolve você como individuo (ou a mim), seu cônjuge e seus filhos. O resto da semana é uma coisa, e o domingo outra. E é a outra que me preocupa.

Você não se preocupa com o futuro de seus rebentos?

A igreja como instituição no âmbito local vem deixado buracos cada vez maiores. Não há fulanização ou acusação frívola. Eu sou o responsável – sou réu confesso por cavar ainda mais os buracos em que cai. Mas não se trata de casos pontuais. A soma de problemas específicos só permitirá ver o quadro geral com maior clareza – e nada mais.

Aqueles senhores – na liderança local - já pegaram o barco andando. Receberam a herança daquele jeito. E nesse círculo vicioso, os problemas se reproduzem, se repetem e se alargam. O buraco se torna cratera.

Longe de transferir uma obrigação. Pais não ousam e nem admitem transferir o que é responsabilidade com amor – e coloque amor nisso. Muito amor e muito cuidar. A questão é estarmos sozinhos. Algo está errado. A família é uma coisa, e a igreja outra. E é a outra que me preocupa.

Reclamamos e lamuriamos. Os pastores não pastoreiam, os professores não ensinam, os cristãos não vivem como Cristo, e as igrejas não são comunidades de amor. Somos responsáveis diretos dos fatos. A catarse profusa é apenas o início.

Comments:
É Volney, quando criança viví um pouco da igreja de ontem. Vô e vó (que me criaram) me tiravam da cama no maior corre-corre:
-Acorda menina, enfia a roupa, engole logo esse café!
Tudo prá não perder o bonde e chegar na hora da escola dominical.
Igreja Batista da Liberdade (nominho sugestivo).
Meu avô tocava violino e a vó cantava no coro. Ao final do culto camelavamos até o ponto do bonde na praça João Mendes.
Almoço precário, e tudo de novo, mais correria pro culto da noite...eu dormia no banco. Éramos muuito pobres, as minhas lombrigas se alvoraçavam na porta da cantina. Até hoje queria saber que bolo era aquele que vendiam.
Vovô (alcoólatra) quase sempre saía da igreja direto pro buteco e voltava prá casa carregado no dia seguinte, querendo botar fogo na casa...(de terno e gravata).
Eu, fugi daquela igreja (e de casa) aos 13 anos. Ralei no mundão..Quando "morri" quis voltar prá casa...aquela igreja já não existia...
Mas aquela era aquela. Hoje, Aleluia!!! Temos outra!
Pois é...
Essa outra que me preocupa
Isso não é um comentário, é uma carta, *rsss, mas seu post mexeu demais comigo.
Onde a gente quer chegar? Por onde?Se você souber o caminho, por favor me chama que eu vou junto.
bjk
:o)
 
gostei do post.
bom para reflexão... e ação
beijos,
alê
 
Mamanunes e Alê - boas participações e manifestação.

O bonde ... - Mamanunes vc 'credita que eu também peguei muito bonde !! Ia pra Consolação e descia pertinho da Praça Roosevelt para chegar na Nestor Pestana. Saíamos da Estação da Luz, pois vinhamos do 'interior': Quitaúna em Osasco!
 
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