22.9.07

 

Io


É muito apropriado escrever a respeito de si mesmo. Há uma intimidade muito grande do eu comigo mesmo. Às vezes somos tentados a escrever sobre os outros. Caímos muito fácil na armadilha de transformar uma suspeição num fato, e assim definir um veredicto descabido. Se é um dito verdade, deverá estar coberto por fatos conhecidos e sabidos.

No entanto só temos plena certeza dos fatos que se referem à nossa pessoa, e mesmo assim, com uma boa dose de dúvidas. Por isso que é sábio escrever a respeito de si mesmo, e não dos outros.

É claro que o veredicto anunciando sobre alguém, pode vir sob o manto do elogio. Elegemos alguém – ou conhecido, um amigo ou uma celebridade (viva ou morta) para elevarmos ou diminuirmos sua estatura através do nosso juízo. Pode ser bom por um lado – mesmo quando se trata de punir o outro com palavras. Mas o certo é focarmos nosso entendimento de nós mesmos, e descrever o que já concluímos há muito.

Há uma clara tendência natural de desviarmos a pena (ou soltarmos os dedos enquanto digitamos) para temas acerca do próximo. Pode ser o vizinho de perto ou aquele distante. Apesar de pouco sabermos, o que sabemos, já é suficiente para tal. Escrever, adjetivar, descrever, qualificar.

Creio que é muito difícil, apesar de apropriado, confessar o que somos. A confissão é uma espécie de ‘de acordo’ – eu concordo com os valores que eu mesmo faço de mim mesmo. É mais fácil confessar pelos outros – eu comigo mesmo defino o que está de acordo com o fulano. E nunca a respeito de mim mesmo!

Será que existe lugar para o outro? Se existe, que tipo de lugar é esse? É adequado ou fora de propósito?

O meu lugar é aqui mesmo. Não onde estou, mas onde sou. O sou é o meu lugar e aqui serei. Sempre sou eu mesmo, por mais que eu me esforce a sê-lo diferente. Não consigo fugir de mim mesmo, e acabo me reduzindo a isso mesmo: o que sou.

O lugar dos outros, apesar de não ser aqui, é aqui que eles tendem a vir e a parar. E o meu lugar?

Se sou o que sou, devo assumir o que sou. E escrever a respeito de mim mesmo. Será o eu falando de si mesmo. Como minha vida é chata. Melhor se escrevesse dos outros.

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