18.7.07
A Demissão
- Vim pedir demissão, Fury. E é pra valer - Não tinha sido a primeira vez. Mas dava para perceber pelo tom da voz, pela firmeza do olhar, que a coisa era séria.
- É a igreja ... - Afirmou desistindo de perguntar. Seu chefe era o responsável pelo segmento masculino da Editora. Um cara experiente no lidar com pessoal de arte, os fotógrafos e jornalistas, e mais ainda com as celebridades.
- É e não é. Você não entende. Eu já expliquei. Tem a ver é claro, com minha fé, mas é mais complicado.
- Mas da última vez que você voltou de férias você tinha superado.
- Não foi bem isso. Eu lhe disse, daquela vez que ficaria por mais um tempo. Essas questões sempre foram complicadas.
- Você que é complicado Zé. Tá na hora de você simplificar. Fica frio – se concentra no trabalho, continue fazendo o seu pé de meia, logo logo você vai se casar ... Como está sua noiva?
Ele tinha uma habilidade incomum no Photoshop. Limpava e retocava as fotos como ninguém. Realçava aqui, dava um toque diferente ali, eliminava o que tinha que desaparecer. E era rápido. Eficiente – sempre. Pontual, e não faltava. E seu horário poderia se arrastar pela madrugada, que ele ficava firme sem reclamar. Um cara exemplar como funcionário.
- Como vou explicar que ela é parte do problema? Do problema não, da questão, da solução ... sei lá. Mas não dá. Não posso deixar o cara me enrolar. Não desta vez.
- Fala Zé. Que cê tá pensando? Você sabe que o momento é ruim. Acabamos de assinar com a amante do empresário, aquele do escândalo... ela vai ser a capa do mês que vem! Vamos ter trabalho viu.
- Sempre teve né, Furymoto. Mas já tem gente boa na área que pode cuidar de tudo. E qualquer coisa, puxa umas horas extras, troca no banco de horas ... enfim, os caras aí dão conta do recado.
- Mas você tinha resolvido esse troço. Você até falou com seu pastor, seu bispo, não foi?
- Pastor ...
- Então, ele lhe deu salvo conduto, perdão ... enfim. Você está absolvido, cara. Não vamos falar mais nisso, e vamos voltar para o trabalho.
Zé Paulo permanecia sentado, imóvel na poltrona em frente ao seu chefe. Furymoto mantinha seu escritório exageradamente decorado com todo tipo de lembrança, fotos e desenhos. E pilhas e pilhas de publicações entre revistas próprias, dos concorrentes e livros. Atrás de sua poltrona um móvel guardava dezenas de carrinhos de ferro coloridos – réplicas dos esportivos com predominância da Ferrari. A secretária ameaçou interromper, mas nem passou pela porta entre aberta. Com um gesto rápido, Furymoto dispensou-a e manteve o foco no seu protegido.
- O que acontece, Fury, é tudo! A Rute, o meu momento, minha cabeça e até mesmo porque cansei. Sou grato a você, à empresa, os cursos que vocês me pagaram. Mas sei que trouxe de volta. E tem mais, já treinei o Joni. O cara tem futuro. Acho que tem muito mais talento que eu.
- Mas não é só isso Zé. Você sabe. Estou no meio de uma situação delicada. Você sabe. Tem aquela super oportunidade, pra mim. E tem o lado mau da história que é o Dr. Gabriel. E não é só de talento que move essa máquina aqui. Tem que entender de mulher, Zé, tem que entender de mulher ...
Furymoto ia usar de tudo para emocioná-lo. E ganhar tempo. Não era a melhor hora.
- Vão dizer que não consigo reter talentos - e os dois se fitavam. Em seguida fulminou:
- E não quero que você vá. Você é bom e não vou perde-lo.
Pronto. Vai ter confronto. Era o que Zé Paulo detestava – ele se superava, se sacrificava, exatamente para não ter confronto.
- Como explicar que é complicado. Eu participando do louvor, tocando baixo. Vire e mexe dou uma palavra pra galera. A Rute também está de saia justa. Ela leciona pras crianças na Escola Dominical. E tem mais, seu avô é pastor jubilado ... uma hora a família dela vai fofocar e daí vai ser só pressão. E quando meu filho nascer, já vou estar sei lá com que idade ... Eu não quero, eu não posso ...
- Já sei, Zé Paulo. Vou colocar o seu nome no expediente da Playboy.
- É a igreja ... - Afirmou desistindo de perguntar. Seu chefe era o responsável pelo segmento masculino da Editora. Um cara experiente no lidar com pessoal de arte, os fotógrafos e jornalistas, e mais ainda com as celebridades.
- É e não é. Você não entende. Eu já expliquei. Tem a ver é claro, com minha fé, mas é mais complicado.
- Mas da última vez que você voltou de férias você tinha superado.
- Não foi bem isso. Eu lhe disse, daquela vez que ficaria por mais um tempo. Essas questões sempre foram complicadas.
- Você que é complicado Zé. Tá na hora de você simplificar. Fica frio – se concentra no trabalho, continue fazendo o seu pé de meia, logo logo você vai se casar ... Como está sua noiva?
Ele tinha uma habilidade incomum no Photoshop. Limpava e retocava as fotos como ninguém. Realçava aqui, dava um toque diferente ali, eliminava o que tinha que desaparecer. E era rápido. Eficiente – sempre. Pontual, e não faltava. E seu horário poderia se arrastar pela madrugada, que ele ficava firme sem reclamar. Um cara exemplar como funcionário.
- Como vou explicar que ela é parte do problema? Do problema não, da questão, da solução ... sei lá. Mas não dá. Não posso deixar o cara me enrolar. Não desta vez.
- Fala Zé. Que cê tá pensando? Você sabe que o momento é ruim. Acabamos de assinar com a amante do empresário, aquele do escândalo... ela vai ser a capa do mês que vem! Vamos ter trabalho viu.
- Sempre teve né, Furymoto. Mas já tem gente boa na área que pode cuidar de tudo. E qualquer coisa, puxa umas horas extras, troca no banco de horas ... enfim, os caras aí dão conta do recado.
- Mas você tinha resolvido esse troço. Você até falou com seu pastor, seu bispo, não foi?
- Pastor ...
- Então, ele lhe deu salvo conduto, perdão ... enfim. Você está absolvido, cara. Não vamos falar mais nisso, e vamos voltar para o trabalho.
Zé Paulo permanecia sentado, imóvel na poltrona em frente ao seu chefe. Furymoto mantinha seu escritório exageradamente decorado com todo tipo de lembrança, fotos e desenhos. E pilhas e pilhas de publicações entre revistas próprias, dos concorrentes e livros. Atrás de sua poltrona um móvel guardava dezenas de carrinhos de ferro coloridos – réplicas dos esportivos com predominância da Ferrari. A secretária ameaçou interromper, mas nem passou pela porta entre aberta. Com um gesto rápido, Furymoto dispensou-a e manteve o foco no seu protegido.
- O que acontece, Fury, é tudo! A Rute, o meu momento, minha cabeça e até mesmo porque cansei. Sou grato a você, à empresa, os cursos que vocês me pagaram. Mas sei que trouxe de volta. E tem mais, já treinei o Joni. O cara tem futuro. Acho que tem muito mais talento que eu.
- Mas não é só isso Zé. Você sabe. Estou no meio de uma situação delicada. Você sabe. Tem aquela super oportunidade, pra mim. E tem o lado mau da história que é o Dr. Gabriel. E não é só de talento que move essa máquina aqui. Tem que entender de mulher, Zé, tem que entender de mulher ...
Furymoto ia usar de tudo para emocioná-lo. E ganhar tempo. Não era a melhor hora.
- Vão dizer que não consigo reter talentos - e os dois se fitavam. Em seguida fulminou:
- E não quero que você vá. Você é bom e não vou perde-lo.
Pronto. Vai ter confronto. Era o que Zé Paulo detestava – ele se superava, se sacrificava, exatamente para não ter confronto.
- Como explicar que é complicado. Eu participando do louvor, tocando baixo. Vire e mexe dou uma palavra pra galera. A Rute também está de saia justa. Ela leciona pras crianças na Escola Dominical. E tem mais, seu avô é pastor jubilado ... uma hora a família dela vai fofocar e daí vai ser só pressão. E quando meu filho nascer, já vou estar sei lá com que idade ... Eu não quero, eu não posso ...
- Já sei, Zé Paulo. Vou colocar o seu nome no expediente da Playboy.