15.10.06

 

A praça em polvorosa

Recebi essa carta do internauta Norman Vincent Pelágio Montes Oliveira, e quero compartilhar com vocês juntamente com a resposta.

Prezado Tio Volney,

Não sei se o sr. tem tempo para ler e responder esta carta, mas é que a situação aqui na praça – bem em frente à nossa escola, ficou brava mesmo.

Sou membro do clube de colecionadores das figurinhas do Reino. Há controvérsias, mas todos nós somos cristãos. Acontece que ultimamente temos deixado de lado nossos adversários comuns e desprezado o que nos une, permitindo que a discórdia tome conta do clube. Não é bem no clube e sim na praça em frente à escola.

Há um certo membro desse grupo. Abro aqui parêntesis e peço confidencialidade – o seu nome é Ernesto Domenico Roberto Emanuel Notório Ermengardo Kaisermann Innocencio Vitória Intrigues Tropeiçus Zacarias. Vou simplesmente chama-lo de coleguinha Z.

Pois bem, ele é pessoa de conduta pessoal ilibada (procurei no dicionário para ter certeza). Só que o coleguinha Z tem insistido em rasgar algumas figurinhas e jogar na cestinha ao lado da banca. A banca lá da praça. As figurinhas são as personalidades da Academia Internacional do Reino. Não sei por que internacional se todos eles são americanos. Tome o caso da figurinha rara do já falecido Doutor Esperto Guilherme, por exemplo. O coleguinha Z vive rasgando o homem. E rasga em 4 leis, quer dizer em quatro partes. E nem pede desculpas. Diz que o envelope tem cheiro de Estados Unidos Republicano.

Ele é muito amigo de um outro coleguinha – que é gordinho, um pouco acima do peso. Aqui em Minas a gente chama ele assim: Gordin, e ele logo atende. Só que é um reclamão. Ta sempre lamuriando, dizendo: to cansado, não agüento mais, vou desisitir, quero jogar tudo pro alto – mas igual a maratonista, vai bufando e correndo para terminar a jornada e pegar seu prêmio.

Como os dois já foram vistos juntos tomando sorvete e rindo – a turma que mora no bairro chamado Faris (e é a mais certinha do clube) pensou que eles estavam tirando sarro dos demais. Acho que foi o sorvete a raiz desse pampeiro todo.

Mas o que aconteceu dia desses é o que me leva a escrever-lhe esta carta. Como sempre, a turma vai para a praça quase todo dia. Lá eles ficam em rodinhas e conversam em voz alta. O coleguinha Z veio com seu álbum de figurinhas, incompleto, e dizendo – quase que gritando: EU JÁ TERMINEI! Todos queriam ver. Só que ele se recusava a mostrar para o pessoal da zona Faris. E mesmo tendo aquela pilha de sobras, ele ia jogar fora as que ele não gostava; Isso mesmo, rasgar e jogar no lixinho!

Aí a turminha ficou muito agressiva. Sabe o que o coleguinha Z fez? Simplesmente terminou a rodinha dizendo que não brincava mais de bate bafo.

Pronto! Os ânimos se acirraram. Agora a praça está em polvorosa. Todo mundo gritando e dando mau exemplo. Só falta sair palavrão. É na praça eu sei, local público. Mas é exatamente isso: o testemunho, a desorientação, os mais fracos ...

E pior, tem muita gente que ainda nem começou a colar as figurinhas nos seus álbuns! Não sabe se brinca, se sai do clube ... Enfim um desânimo só!

Não sei o que fazer.


Seu sobrinho

- - - - -

Resposta:

Norman, obrigado por sua cartinha tão bem escrita. Seu pai lhe ajudou a escreve-la? Está muito bem escrita. Parabéns.

Fico triste em saber que a praça está em bagunça – mas não se preocupe, ela se ajeita com o tempo. Apesar de ser um lugar público, as pessoas são civilizadas – mesmo que você se sinta ainda jovem demais – as coisas se acertam.

Foi importante o que você mencionou. Fico triste que o pessoalzinho do clube deixou de lado os desafios comuns e as coisas positivas (e que são muitas) que unem vocês – para dar atenção a esse detalhe de bater bafo ou não bater bafo! Realmente temos muita coisa para cuidar – as necessidades e carências são imensas.

Mas vamos ao acontecido, como você me explicou, o que tenho a lhe dizer é que vocês tem que respeitar o coleguinha de vocês. Lembre-se que quem comprou as figurinhas que sobraram foi o seu coleguinha Z. Então ele é o dono das figurinhas. Se ele não gosta de algum personagem e não quer colar no seu álbum é uma decisão dele – entende!

Devemos respeitar isso. Assim também se ele não quer bater bafo, devemos igualmente respeita-lo. E continuar amigo dele, mesmo que ele não queira bater bafo com você.

E tem mais, não se deve ficar falando dele. Nem em voz alta para que os outros da praça ouçam, nem em voz baixa – pois fofoca e fuxico não é bom pro clubinho do Reino.

Agora, se você acha que precisa acertar alguma coisa com ele, você deve ir a casinha dele e conversar com ele. Ou então marque para tomar um guaraná na carrocinha de cachorro quente lá na praça. Sentem os dois nos banquinhos do Geraldo e converse os dois – você entende?

Fale com ele. Não fale a respeito dele. Você entende?

Agora, sobre o Reino, uma palavra que Jesus o nosso Rei, deixou para nós, e está lá em João 17 versículo 21. É Jesus fazendo uma oração: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti: que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.”

Comments:
Sem dúvida, uma bela tentativa. Espero que seja ouvida. Quanto a mim, fico com uma vontade danada de fuxicar o z. Mas, estou me controlando e por causa do Reino. Mas, ele continua rasgando as figurinhas lá no lixo da banca.
 
Caro titio,

Estou escrevendo para agradecer o seu super-conselho. Li sua cartinha em voz alta para o pessoal no recreio e depois de um dia ou dois de constrangimento estamos hoje brincando tranqüilos lá na praça. Chegamos à atordoante conclusão que figurinhas não são pessoas, e que por isso não podem ser abraçadas ou perdoadas. Fala sério, nem dá pra brincar com elas. Ninguém merece. Resultado: deixamos as figurinhas de lado e resolvemos brincar no parquinho, jogar futebol e cabra-cega e subir em árvores.

Bom, é isso. Não teria acontecido sem a sua inspiração. Abraço nos primos e não deixe de aparecer por aqui nas férias.

Beijos

PB
 
Meus sobrinhos e sobrinhas -todos vocês:

Vocês são uns amores!

Essa gostosa emoção está me acompanhando desde ontem à noite.

Alegria no Senhor.
 
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