30.1.06

 

Teologizar e a Pós-Modernidade


Neste sábado Luiz Sayão falou sobre a Teologia Brasileira no evento do Vida Acadêmica. Algumas considerações importantes e válidas sobre a cultura brasileira e uma análise cândida sobre a perspectiva do evangelicalismo brasileiro. Creio que no fundo, ninguém quer ser o 'cuspidor de vespas' - termo que ele mesmo usou. Mas fora isso, quero insistir na Agenda Positiva que precisamos construir (e nos comprometermos). Está claro que a Teologia Brasileira tem mais a ver com a relevância com que falamos à nossa geração e a ruptura que precisamos criar numa cultura que absorve e se torna um excelente 'habitat' do pós-modernismo. O abismo parece que se amplia. Os pastores, seminaristas e líderes tendo muito a aprender (e pouca massa produzida - falta literatura de pêso, a despeito do novo patamar que se encontram as editoras cristãs), de um lado. E de outro, um rebanho apático e totalmente aculturados com a pós-modernidade.

Até agora ressoa em minha mente o trabalho que tive ao traduzir a entrevista do David Wells - quando eu pego uma tarefa dessas, procuro ir mais fundo, pesquisando e entendendo contextos e influências. Acabei fazendo uma segunda lição de casa.

Por exemplo: estamos carecas de saber que Os Guiness é um cara que precisa falar para os nossos pastores e à nossa igreja em geral. Ao invés disso preferimos os tais Summits com Rick Warren e outras sensações do mundo corporativo. Jim Collins é um dos meus autores favoritos no campo corporativo. Além do mais se é uma coisa da cultura deles ... deixa que o cara fale por lá. Mas entre escolher ele e o Guiness ... haja histórinha de obediencia e desobediencia de profetas pra analogizar.

Não sabemos ou sabemos pouco sobre o Barna e seu trabalho de pesquisas - mas o cara tá monitorando a falência de um movimento evangelical sem precedentes na história do cristianismo!

Perguntei ao Sayão (na hora aberta para debate) sobre a polêmica teológica (superficialmente tratada no Teologia Brasileira) entre ele e o Gondim. A sua resposta (polida e política) foi mais para a validade do Gondim se inquietar como pastor e por suas experiências eclesiásticas. Mas longe de se poder fazer um trabalho teológico encima dos seus questionamentos. Perguntei de novo, e daí ele alertou que realmente quem assume extremos nos dois expectros (entre as posições calvinistas e arminianas) estão sujeitos a extravagâncias. O calvinista pode chegar ao extremo de dizer que não se precisa orar (fatalismo-determinismo) e que o outro lado é achar que Deus está ausente da história e só nós podemos influenciá-la.

Eu já tinha esgotado (havia feito três perguntas), mas me cheira essa polidez, uma ausência em se tocar no que a pós-modernidade faz com nossas tendências teologizadoras - frente á nossa cultura e sociedade.E o que não fazemos também! No fundo é omissão pura e discussão estéril. Vejo bons seminaristas reclamando do liberalismo na sala de aula - só que a batalha já é outra. E o que me motivou a blogar é o desafio de Lutero que postou em seus cadernos há meio milênio atrás!

Acredito que a grande questão é saber falar (comunicação com pertinência) e mais do que isso expressar na vida (prática) essa paixão e compaixão por nossa geração (sentido amplo - não pense que isso está restrito aos jovens) a Verdade do evangelho que transforma;

Creio que, no Brasil de hoje, estamos precisando mais do último tipo de igreja. Veja os tipos e sua relação com a cultura:.
1. A igreja contra a cultura (Pietismo, Evangelicalismo Moderno, Dispensacionalismo)
2.A igreja separada da Cultura - o rebanho santo (Fundamentalismo, Monasticismo)
3. A igreja integrada na cultura - não se pode diferenciar entre crentes e não-crentes (Caçadores de Emoção, Igrejas Liberais)
4. A igreja tendo um impacto na sua comunidade para transformar a cultura - agentes de mudança (Reformados e Evangelicos Progressistas)

Sobre os caçadores de emoção (Sensitive-seekers ou 'buscadores de sensações') postei no nosso novo blog KERIGMA a excelente entrevista do Prof. David F. Wells - um alerta agudo e inquestionável para os modismos - que pastores brasileiros são os primeiros a abraçar.

E mais e mais me convenço de que não temos gente discutindo a pós-modernidade ... e me entristeço pois não é um bonde qualquer que vamos perder ...

Comments:
Relacionamentos pessoais a parte, o Robson Ramos escreveu um livro sobre o tema e estudou para fazê-lo. http://www.robsonramos.com.br/palavras.htm
Mas, continuo com a sensação que os Caios continuam discursando. O povo adora sanduiche de pão vazio.
 
Excelente dica, Lou. Não sabia de seu livro e nem do site. Pra entrar nas 'palaras' precisa entrar no site, pular a introdução e clicar direto em PALAVRAS.

E quem é que ele citou dentro da ilustração? Ganha um jantar quem adivinhar antes de ir lá pegar a cola ...
 
Dessa eu não posso participar, mas, aceito participar do jantar com o ganhador.
 
Há muito no que você escreveu, mano, para ser discutido numa tacada só.

Em primeiro lugar, falar do pós-modernismo (inclusive do relativismo) como raiz de todos os males é algo que não tenho como endossar. O pós-modernismo é, entre outras coisas, uma reação coletiva e não-planejada ao deus racionalismo que reinava durante o modernismo - período durante o qual se cometia a mancada de se tentar explicar tudo pela razão. A mancada foi tão grande que até os cristãos caíram no logro dessa pregação, e adotaram a noção de que tudo pode e dever ser explicado e exposto racionalmente, inclusive as imponderabilidades da criação e da salvação. Leia-se os fundamentalistas norte-americanos e nós que os copiamos incessantemente.

Quanto a Rick Warren, muito já se falou da separação entre Igreja e Estado. Creio que está chegando a hora de propormos uma separação entre Igreja e Lucro - ou melhor dizendo, entre cristão e lucro. O único modo que vejo de combater o mercantilismo que grassa no meio evangélico é uma forma radical de ascetismo comercial. Para evitar transformar casa de oração em covil de ladrões, é melhor que proponhamos nesse meio nada vender e nada comprar. As idéias de Warren vendem livros, palestras e kits. Mas o assalariado foge assim que surgem os lobos, porque não ama de fato as ovelhas. O rebanho não está (como você diz) aculturado com o pós-modernismo (do contrário daria vazão aos seus aspectos positivos); está sim aculturado com o mercantilismo, em que tudo se compra e se vende, inclusive promessas de bençãos.

Fazedores de tendas, é tudo que pode restar - é nossa única chance.

É natural que estou mais para Gondim do que para Sayão. Entre outras coisas, Gondim comete a saudável e ousada e modesta insensatez de afirmar que não está pronto, e de agir em conformidade com essa afirmação. Gondim ousa abrir mão do verniz da polidez - pecaminosa polidez, - e quando se expõe, expõe a todos nós.

Acredito que a grande questão é se fazer presente e relevante para o mundo. As palavras de ordem são disponibilidade e relevância. A cultura evangélica convencional (cuja falência é profetizada e medida por Barna) exige que o cristão se disponibilize incessantemente para a instituição; esse ascetismo nos mantém à salvo da nossa missão e do contato com o mundo. Fomos convidados para nos disponibilizarmos, mas para o mundo, não para uma rotina circular. As rodas de samba, grupos de teatro, salas de aula, salas de chat, blogs, escolas de natação, vestiários, cursos de vendas, cozinhas industriais precisam de gente-cristãos que façam diferença - não apenas por serem diferentes *deles*, mas por fazer diferença *para eles*. Disponibilidade e relevância: as especialidades daquele rabi empoeirado que atraía multidões.

Podemos discutir o pós-modernismo se você quiser, mesmo que sejamos apenas nós dois (três). E não vejo lugar melhor do que aqui: o que você entende por pós-modernidade e por que ela merece ser discutida?
 
Paulo, espero que a discussão possa ser ampliada para quatro! Para iniciar discutindo o pós-modernismo gosto de uma colocação de Mark Driscoll: "Se você perguntar a quatro filósofos o que siginifica pós-modernismo, vocè obterá cinco respostas." A discussão varia entre se o pós-modernismo é uma fase passageira, um movimento em direção à algo ainda indefinido (já se fala em pós pós pós-modernismo, emboraeu faça coro junto ao Brian McLaren em não concordar esses termos, assim como não havia o homem pós pós-medieval), ou ainda a lógica final do capitalismo. O que quer que represente em termos históricos, Stanley Grenz observa o pós-modernismo como um fenômeno "marca o fim de um worldview único e unversal". Pós-modernismo uma fase além do modernismo, uma revolta cultural e cronológica contra a desmistificação do universo criada pelo Iluminismo, baseada na noção do progresso humano tendendo ao infinito, ao perfeito. Agora imagina a discussão em meio ao nosso ambiente eclesiástico (acho que o melhor termo seria "igrejeiro") brasileiro, o qual, como vc colocou, não está aculturado com o pós-modernismo. Tenho observado tanta atitude defensiva, porém mais para o lado do medo e da desinformação, do que para profundidade e reflexão. Acho que nossa elite pensante esqueceu do Theologia Reformata Et Semper Reformanda. E acabou sem perceber casando-se com o Modernismo. Alguem um dia disse que aquele que se casa com uma era se torna viúva dos tempos! Por isso encontrar vocês nesta discussão online, mesmo estando milhares de milhas de distância (estou em New York/Connecticut, e a propósito suas fotos em Santa Catarina me mataram tal saudade de casa que até cheiro do mato da serra eu senti!!!) é como uma resposta do Alto!
Então, respondendo à sua pergunta sobre nosso entendimento de pós-modernismo, eu, pessoalmente concordo com sua própria colocação, "uma reação coletiva e não-planejada ao deus racionalismo que reinava durante o modernismo - período durante o qual se cometia a mancada de se tentar explicar tudo pela razão". Acrescentaria alguns tópicos em relação às mudanças sociais que favoreceram esta reação: O ápice do consumismo e uma superprodução e oferta de bens, o final da era do colonialismo (acabando com a imposição do worldview ocidental, leia-se nas entrelinhas Cristandade, por isso falamos tambem em Pós-Cristã), Revolução Sexual, A Emersão da Cultura Jovem, Pop Music, A Explosão da Tecnologia da Informação, Cultura Global. Creio que tudo isso, juntamente a um sentimento coletivo (eu nunca acreditei que tal coisa como consciente coletivo existiria)de que todo o progresso estava nos levando pras cucuias, em vez de nos fazer melhor, toda a idolatria da tentativa de responder tudo racionalmente, matando o mistério na sociedade, isso conjuntamente esta formando esse monstrinho pós-moderno. Podemos discutir mais profundamente sobre tudo isso, mas acho que este não é o espaço adequado para algo mais detalhado, talvez este seja o lugar de incitar as idéias e iniciar algumas conversações (pós-moderno ama iniciar conversação). Porém queria tocar em 4 pontos do seu comentário de forma bem prática.
1. Quando vc comentou sobre a visão moderna "A mancada foi tão grande que até os cristãos caíram no logro dessa pregação, e adotaram a noção de que tudo pode e dever ser explicado e exposto racionalmente". Isto é exatamente uma das questões que reflito em relação à influência que a cultura exerce na forma de sermos cristãos. Creio que, assim como caímos no logro do racionalismo, agora cairemos (e de certa forma queremos isso) cair no logro do pós-modernismo(com sua forma de contar o evangelho através de sentimentos e experiências pessoais, nosso retorno às artes, um engajamento muito mais forte e relvante junto à cultura, etc). Não me entenda errado, quero, e acho isso muito bom, mas o meu ponto é que daqui a 100, 500 anos, o movimento sociológico pode ser outro, por exemplo, voltar ao racionalismo, ou à uma forma bem mais priitiva de religião, como a dos hebreus antigos. Não sei como isso é, se é, possível, mas serve como ponto para hoje vermos que daqui um tempo nós veremos esta fase como também um logro no qual caímos. O que quero dizer é que nós respondemos à algo maior ditado pela cultura e contexto.
2. O Mercantilismo no meio evangélico. Creio que só uma reflexão profunda de nossas disciplinas espirituais e diárias pode nos responder isso. Concordo que parte da respostas nos levará para um asceticismo, porém não consigo enxergar um asceticismo comercial, vejo uma tendência a um asceticismo espiritual (uma mescla de vida monástica, comunitária, Richard Foster e Dallas Willard, Thomas Merton, Thomas a Kempis, Assis, São João da Cruz, Henry Nowen, Ghandi,etc) viu a quantidade de inspiradores para uma vida mais simples? E de alguma forma este conteúdo tem que ser adquirido (seja através de livros, palestras, retiros, internet que necessita de computador, conexão, etc). Não sei, este é um tópico para talvez gastarmos mais e mais insights, não consigo ver uma distanciação do consumo, mesmo que repensado.
3. Fazedores de Tenda! Me considero um! Me considero chamado e desafiado por Deus para participar desta transição de tempos, servindo a comunidade, vejo que mais e mais, vou ter que construir umas tendinhas, para poder ter liberdade, não somente de pensamento, mas também de ação, fugir da forma engessada, burocrática, hierarquizada (tá aí mais uma herança do modernismo!!!) de nossas church corporations de hoje em dia! Isso eu gosto, amo nos ministérios pós-modernos que tenho estudado, a habilidade de fazer com pouco, com criatividade, de forma rápida, relevante em meio ao caos!
4.Disponibilidade e Relevância: roda de samba, design, fashion and social statements, futebol e carninha no final de semana, livros, escritores, agitadores culturais, professores, ecologistas, atletas, pais e mães, escolas, mecenas e filantropistas, músicos, e tudo o mais onde a Luz da Verdade possa iluminar!

E aqui eu termino incitando uma outra discussão, o final da polarização secular e sagrado. E a sacralização de todas as nossas atvidades, artes, cultura, geografia, relações sócio-econômicas, etc. Utopia ou esses passos pós-modernos nos ajudarão a caminharmos para isso?
 
Brabo e Marconi (Lou incluso),
Não vou pagar jabaculê por vcs virem aqui e valorizarem meu blog!

Muito obrigado pela visita e pelo tempo. E pelas boas provocações e insights. É disso que precisamos.

Venham participar. Já tem um post inicial (hoje) - em várias etapas (futuras postagens), mas sabe como é, tenho que fazer as minhas tendas também ...

Brabo tô com uma idéia maluca de fazer um blog específico pra essa discussão - vc topa?
 
Volney, meu amigo abraçável, cê sabe que meu ministério é gerar polêmica. Se for controverso estou definitivamente dentro. Pelo menos para tocar lenha na fogueira estarei lá.

Marconi, onde é que você andava, meu Senhor do céu? Respostas do alto sempre vêm em dobro: um catarina lúcido em Connecticut. Obrigado pela tua contribuição e pela oferta que deixaste na Bacia. Mais em breve por e-mail.
 
Correção: Carioca de barriga-verde novaiorquino! Embora espero que quando voltar não digam que "eu fiquei americanizado, por causa do dinheiro e que estou muito rico, e que não suporto mais o toque do pandeiro."

Volney e Paulo, tô aqui para essa santa conspiração!!!

Paulo, obrigado pelo gentil email, Marconi da Glória, gostei dessa!!!
 
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