8.12.05
Apesar de não ter recebido essa carta aberta diretamentede seus signatários, me foi repassada por fonte confiável. Serve para compartilhar, para orar, e nos desafiar a voltar novamente nosso coração para Missões!
CARTA ABERTA ÀS MISSÕES
Inicialmente queremos agradecer as manifestações de apoio que temos recebido durante os últimos meses de várias das missões que atuam junto aos índios. Escrevemos essa carta com o propósito de tranquilizar os irmãos e esclarecer os fatos relativos à viagem dos bebês suruwaha para São Paulo.
Nós, Edson e Márcia Suzuki, somos os responsáveis diretos pela equipe que trabalha junto aos suruwahá e acompanhamos todo esse processo. Como sabemos que os desdobramentos de nossas ações estão afetando outras missões, nos sentimos na obrigação de prestar esses esclarecimentos.
JOCUM trabalha com o povo suruwaha desde 1984. São mais de 20 anos junto a um povo isolado, testemunhando o amor de Jesus através de atos e palavras de amor. Aprendemos a falar a língua, fizemos análise fonológica e gramatical, criamos uma ortografia, compilamos um dicionário e publicamos artigos científicos sobre a língua.
Trabalhamos também na área de saúde atuando principalmente nos surtos, providenciando atendimento de emergência, muitas vezes fazendo lançamento de medicamentos por avião. Graças a esse trabalho, os suruwaha constituem uma das pouquíssimas tribos onde não houve redução populacional nos anos que se seguiram ao contato.
Durante todos esses anos, nossas equipes têm sido extremamente cuidadosas com relação ao respeito cultural. Tanto que o impacto cultural de nossa presença nessas duas décadas é praticamente imperceptível. Os suruwahá têm praticamente o mesmo tempo de contato que os uru-eu-wau-wau, por exemplo, e continuam sendo considerados índios isolados pela FUNAI. Os sobreviventes dos uru-eu-wau-wau por sua vez, estão fragilizados, doentes, maltrapilhos, alcoolizados e totalmente dependentes da ajuda externa para sobreviver.
Por outro lado, toda cultura é dinâmica e nossa presença entre os suruwahá têm produzido sim algumas mudanças culturais. Uma dessas mudanças é que hoje eles acreditam que toda criança, por mais diferente que seja, merece viver. Os suruwahá nos útimos anos vem optando por romper com a tradição ancestral do infanticídio, e temos visto pais e mães lutando corajosamente para salvar a vida de seus bebês.
Como muitas outras tribos, os suruwahá tradicionalmente sacrificam crianças indesejadas. Entram nessa categoria crianças que nascem com alguma anomalia e crianças consideradas amaldiçoadas pela tribo. Crianças podem ser amaldiçoadas por serem filhas de mãe solteira ou de viúva, gêmeas ou simplesmente meninas. Durante muitos anos fomos coniventes com essa prática, justificando nossa omissão como "respeito cultural". Além disso, achávamos imprudente tomar qualquer atitude que ameaçasse a continuidade de nossa presença entre eles. Não queríamos ter problemas com as autoridades e assim perder a oportunidade de "comunicar o Evangelho".
Vários acontecimentos mudaram nossa maneira de enxergar essa realidade. O principal deles foi a adoção de Hakani, nossa querida filha. Menina destinada ao infanticídio, literalmente arrancada de dentro do túmulo, hoje faz parte de nossa família e enche nossa vida de sorriso (esse é significado do seu nome). Hakani nos ajudou a entender que os fins nunca justificam os meios.
Movidos por essa convicção, tomamos a decisão de apoiar incondicionalmente cada suruwahá que desejasse salvar seus bebês do sacrifício. Por isso resolvemos apoiar as duas famílias que nos procuraram no início desse ano pedindo ajuda. Eram crianças que deveriam ser mortas pela tradição cultural, mas que poderiam ser aceitas e amadas pelo povo caso os médicos conseguissem "consertá-las". Em ambos os casos os pais teriam que matá-las se voltassem para a aldeia, e em seguida se suicidariam. O que fazer nessa situação? Nós sabíamos que tínhamos que ser coerentes com a mensagem que vínhamos tentamos transmitir durante todos esses anos.
Resolvemos trazer as duas famílias para São Paulo com documentos fornecidos pela FUNAI e pela FUNASA - sem esses documentos teria sido impossível viajar com eles de avião. Ficamos todos hospedados num sítio e as crianças estavam sendo muito bem atendidas no Hospital das Clínicas. Enquanto isso, um padre do CIMI fazia uma denúncia no Ministério Público alegando que as famílias haviam sido trazidas ilegalmente. Com isso o HC se viu impossibilitado de fazer a cirurgia de correção de sexo de uma das bebês e os índios entraram em crise. Nossa equipe escreveu muitas cartas pedindo oração às igrejas e uma dessas cartas foi parar nas mãos de uma repórter do Fantástico, da Rede Globo. A reportagem não só contou o drama das crianças, mas também expôs a negligência do Estado. Daí para frente os irmãos já sabem o que aconteceu. O caso tomou proporções inimagináveis e a pressão da opinião pública ajudou - em poucos dias a cirurgia foi autorizada e a FUNASA assumiu o tratamento das crianças. Para a família dos bebês isso significou a diferença entre a morte certa e a vida.
Mas como não poderia deixar de ser, veio a represália. Iniciou-se uma nova onda de perseguição, denúncias e acusações falsas contra as missões. A FUNAI diz estar "reunindo provas" e quer responsabilizar JOCUM por
episódios de suicídio coletivo na tribo. Além disso quer nos acusar criminalmente de usar a imagem dos suruwahá para levantar fundos no exterior para catequização. Os irmãos entendem bem do que eles estão
falando aqui, visto que todos nós vivemos de ofertas. Sabemos que nossas ações afetam não somente a JOCUM, mas todas a missões que trabalham com índios. Não queremos prejudicar ninguém e lamentamos que todos estejam enfrentando transtornos. Não fizemos nada de errado e esperamos que tudo se resolva da melhor maneira possível.
Por outro lado, todos nós temos consciência de que a oposição não é novidade para quem resolveu seguir o caminho da cruz. Só precisamos de graça para responder com verdade e amor àqueles que nos interrogam, e de coragem para falar profeticamente.
Estejam orando pela Audiência Pública que vai acontecer em Brasília no dia 14 de dezembro, quarta-feira, às 14h30, na Câmara dos Deputados. Nós, da JOCUM, fomos convidados a participar como expositores num debate cujo tema será: esclarecimentos sobre a denúncia de retirada não autorizada e crianças de uma aldeia indígena. Os presidentes da FUNAI e da FUNASA estarão presentes e a imprensa também foi chamada. Precisamos estar cobertos de oração.
Atenciosamente,
Edson e Márcia Suzuki
JOCUM
CARTA ABERTA ÀS MISSÕES
Inicialmente queremos agradecer as manifestações de apoio que temos recebido durante os últimos meses de várias das missões que atuam junto aos índios. Escrevemos essa carta com o propósito de tranquilizar os irmãos e esclarecer os fatos relativos à viagem dos bebês suruwaha para São Paulo.
Nós, Edson e Márcia Suzuki, somos os responsáveis diretos pela equipe que trabalha junto aos suruwahá e acompanhamos todo esse processo. Como sabemos que os desdobramentos de nossas ações estão afetando outras missões, nos sentimos na obrigação de prestar esses esclarecimentos.
JOCUM trabalha com o povo suruwaha desde 1984. São mais de 20 anos junto a um povo isolado, testemunhando o amor de Jesus através de atos e palavras de amor. Aprendemos a falar a língua, fizemos análise fonológica e gramatical, criamos uma ortografia, compilamos um dicionário e publicamos artigos científicos sobre a língua.
Trabalhamos também na área de saúde atuando principalmente nos surtos, providenciando atendimento de emergência, muitas vezes fazendo lançamento de medicamentos por avião. Graças a esse trabalho, os suruwaha constituem uma das pouquíssimas tribos onde não houve redução populacional nos anos que se seguiram ao contato.
Durante todos esses anos, nossas equipes têm sido extremamente cuidadosas com relação ao respeito cultural. Tanto que o impacto cultural de nossa presença nessas duas décadas é praticamente imperceptível. Os suruwahá têm praticamente o mesmo tempo de contato que os uru-eu-wau-wau, por exemplo, e continuam sendo considerados índios isolados pela FUNAI. Os sobreviventes dos uru-eu-wau-wau por sua vez, estão fragilizados, doentes, maltrapilhos, alcoolizados e totalmente dependentes da ajuda externa para sobreviver.
Por outro lado, toda cultura é dinâmica e nossa presença entre os suruwahá têm produzido sim algumas mudanças culturais. Uma dessas mudanças é que hoje eles acreditam que toda criança, por mais diferente que seja, merece viver. Os suruwahá nos útimos anos vem optando por romper com a tradição ancestral do infanticídio, e temos visto pais e mães lutando corajosamente para salvar a vida de seus bebês.
Como muitas outras tribos, os suruwahá tradicionalmente sacrificam crianças indesejadas. Entram nessa categoria crianças que nascem com alguma anomalia e crianças consideradas amaldiçoadas pela tribo. Crianças podem ser amaldiçoadas por serem filhas de mãe solteira ou de viúva, gêmeas ou simplesmente meninas. Durante muitos anos fomos coniventes com essa prática, justificando nossa omissão como "respeito cultural". Além disso, achávamos imprudente tomar qualquer atitude que ameaçasse a continuidade de nossa presença entre eles. Não queríamos ter problemas com as autoridades e assim perder a oportunidade de "comunicar o Evangelho".
Vários acontecimentos mudaram nossa maneira de enxergar essa realidade. O principal deles foi a adoção de Hakani, nossa querida filha. Menina destinada ao infanticídio, literalmente arrancada de dentro do túmulo, hoje faz parte de nossa família e enche nossa vida de sorriso (esse é significado do seu nome). Hakani nos ajudou a entender que os fins nunca justificam os meios.
Movidos por essa convicção, tomamos a decisão de apoiar incondicionalmente cada suruwahá que desejasse salvar seus bebês do sacrifício. Por isso resolvemos apoiar as duas famílias que nos procuraram no início desse ano pedindo ajuda. Eram crianças que deveriam ser mortas pela tradição cultural, mas que poderiam ser aceitas e amadas pelo povo caso os médicos conseguissem "consertá-las". Em ambos os casos os pais teriam que matá-las se voltassem para a aldeia, e em seguida se suicidariam. O que fazer nessa situação? Nós sabíamos que tínhamos que ser coerentes com a mensagem que vínhamos tentamos transmitir durante todos esses anos.
Resolvemos trazer as duas famílias para São Paulo com documentos fornecidos pela FUNAI e pela FUNASA - sem esses documentos teria sido impossível viajar com eles de avião. Ficamos todos hospedados num sítio e as crianças estavam sendo muito bem atendidas no Hospital das Clínicas. Enquanto isso, um padre do CIMI fazia uma denúncia no Ministério Público alegando que as famílias haviam sido trazidas ilegalmente. Com isso o HC se viu impossibilitado de fazer a cirurgia de correção de sexo de uma das bebês e os índios entraram em crise. Nossa equipe escreveu muitas cartas pedindo oração às igrejas e uma dessas cartas foi parar nas mãos de uma repórter do Fantástico, da Rede Globo. A reportagem não só contou o drama das crianças, mas também expôs a negligência do Estado. Daí para frente os irmãos já sabem o que aconteceu. O caso tomou proporções inimagináveis e a pressão da opinião pública ajudou - em poucos dias a cirurgia foi autorizada e a FUNASA assumiu o tratamento das crianças. Para a família dos bebês isso significou a diferença entre a morte certa e a vida.
Mas como não poderia deixar de ser, veio a represália. Iniciou-se uma nova onda de perseguição, denúncias e acusações falsas contra as missões. A FUNAI diz estar "reunindo provas" e quer responsabilizar JOCUM por
episódios de suicídio coletivo na tribo. Além disso quer nos acusar criminalmente de usar a imagem dos suruwahá para levantar fundos no exterior para catequização. Os irmãos entendem bem do que eles estão
falando aqui, visto que todos nós vivemos de ofertas. Sabemos que nossas ações afetam não somente a JOCUM, mas todas a missões que trabalham com índios. Não queremos prejudicar ninguém e lamentamos que todos estejam enfrentando transtornos. Não fizemos nada de errado e esperamos que tudo se resolva da melhor maneira possível.
Por outro lado, todos nós temos consciência de que a oposição não é novidade para quem resolveu seguir o caminho da cruz. Só precisamos de graça para responder com verdade e amor àqueles que nos interrogam, e de coragem para falar profeticamente.
Estejam orando pela Audiência Pública que vai acontecer em Brasília no dia 14 de dezembro, quarta-feira, às 14h30, na Câmara dos Deputados. Nós, da JOCUM, fomos convidados a participar como expositores num debate cujo tema será: esclarecimentos sobre a denúncia de retirada não autorizada e crianças de uma aldeia indígena. Os presidentes da FUNAI e da FUNASA estarão presentes e a imprensa também foi chamada. Precisamos estar cobertos de oração.
Atenciosamente,
Edson e Márcia Suzuki
JOCUM