7.12.10

 

Comunidade

Se realmente entendessemos a profundidade do conceito de se viver em comunidade - resgatando de um lado a herança da igreja primitiva, e colocando em prática as diretrizes neo testamentárias, o Cristianismo ganharia forte significado para o mundo.

Viver e ser corpo é estar junto. Sofrer junto. Amar ao irmão, livre de condicionamentos e preconceitos. Infelizmente hoje se faz muito para que o espirito da comunidade não vingue.

Por exemplo, a decoração da igreja. Bancos pesados, enfileirados, formato de auditório. O sujeito fica olhando para a nuca do outro que senta-se à sua frente. Todos em silêncio. Não se conversa entre si. Mesmo no momento de cumprimentos à la 'Paz do Senhor' é uma papagaiada superficial repetindo o que o pastor ou líder de louvor manda.

O silêncio impera. É só o pregador que fala - discurso centralizado e sem interação. As atividades do culto terminam - toca pra casa. Não há oportunidade para comunhão, para entrosamento, conhecimento mútuo ... Há que se quebrar essas amarras para que a igreja seja mais comunidade.

A pregação é mais importante que a koinonia. Não evoluimos. Há multiplas formas de estudarmos e crescermos em conhecimento. Chamamos de multi-meios ou multiplas mídias. Para ser comunidade, só um meio e uma forma: conversar, interagir, realizar trocas. Um fala, outro ouve. O outro fala, o um ouve.

Há muito mais crescimento e serviço cristão na interação entre os irmãos, do que em vários anos ouvindo sermões.

Outro exemplo. E sou testemunha disso e sou culpado disso. Certamente joguei esse jogo. É assim: caráter (peso zero); doutrinamento (peso dez). Fraternidade (peso zero); aparência (peso dez); Linguagem do amor (peso zero); linguagem gospel-da-boca-pra-fora-clichezada-falsa-superficial (nota dez).

Tem doutrina, fala tudo direitinho, certinho, amarradinho, ajustado - dez. É pessoa decente, confiável, amorosa, transpira o Espírito Santo ... isso é detalhe.

Não se olha mais para o coração, para os olhos, para buscar e valorizar a beleza interior. Olha-se para as resposta doutrinárias. Olha-se para conferir a convicção cínica e imbecílica (se for diferente disso é má fé). Não é a toa que desanda o caldo da comunidade.

Peço perdão - pois confesso que assim agi em muitas e muitas situações. É o jogo da religião, da letra, que mata e seca.

Entenda o meu tom. Receba-o com afeto. É um desabafo para o bem, para a construção.

Deserto e Comunidade. Podemos falar muito mais deles dois - mas ainda temos o Amor a considerar.

Sem comunidade o cristianismo não tem sentido.

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4.12.10

 

O Deserto

Há um Deserto a percorrer. Longo, árido, seco, quente demais. Use sandálias fortes. Proteja-se do sol. Leve uma sábia reserva de água. E caminhe!

Não há atalhos. Não há caminho fácil.

Para a vida cristã fazer sentido, dar profundidade, e ter frutos verdadeiros (mais para o interior do que para o exterior do homem), a porta é o Deserto. E o destino é o caminhar.

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Como tudo na vida, buscamos a acomodação, o jeito fácil. Racionalizamos para racionar. Queremos ser econômicos nos sacrifícios e esbanjadores no prazer.

Como tudo na vida achamos que a solução reside em consertar os outros, em melhorar as circunstâncias, em fugirmos do estado vigente. Como se o problema residisse além de nós mesmos. Como se pudéssemos estar aparte dos outros, das circunstâncias e do estado presente.

Como tudo na vida, um dia temos a oportunidade de enfrentar o mal, cara a cara. Aquele mal que habita em nós e que nos escraviza - ao longo de toda nossa vivência. Até a nossa morte. A Cruz acontece e vem ao nosso encontro para reverter essa situação.

Como tudo na vida, não basta assentir. Há que ir além. A Cruz, Jesus, a nova vida - leve todos para o Deserto. E processe o seu viver com o Altíssimo. Uma caminhada solitária, única, muito pessoal. Algo essencial e revolucionário.

Ande portanto, na luz, na vida, em amor. Caminhe portanto, em direção a Ele. Com Ele. N'Ele.

Entre no Deserto e viva!

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3.12.10

 

Deserto, Comunidade e Amor - 1

Dizem que foi feito um concurso entre os países para se publicar um livro para os novos convertidos. Os alemães logo trouxeram Pequena Introdução à Vida Cristã - compêndio em 7 volumes (3.867 páginas). Já os americanos apresentaram um pocket book: Better, Stronger and Faster Christians (USD$9,99 - compra-se pela Amazon). Quando chegou a vez dos brasileiros eles responderam: "Mas terminava hoje o prazo de entrega?"

Pois é - tomara que essa piada seja verdade para nós. Longe de ser um paralelo à teologia de outros países, a verdade é uma só. Talvez a graça seja mais abundante entre os atrasadinhos. Talvez a graça se achegue a quem é mais carente. E bem possível que a graça seja mais efetiva em quem se apresenta mais fraco.

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Quando o Cristianismo não faz sentido é mais que um título, um livro, ou um movimento. É uma constatação clara de que perdemos o rumo em algum ponto da história. E é urgente o arrependimento e o voltar-se a Ele. Uma nova conversão. Uma re-conversão. Um reavivamento.

Esqueceram de mencionar o Deserto, deturparam a Comunidade, e prenderam o Amor na teoria. Mas se for para tecermos uma crítica - na verdade uma auto-crítica - devemos focar nesses três pontos para resgatar o que é caminhar com Deus.

Primeiro vem o deserto. Não foi à toa que Jesus começou assim. Não existem atalhos, não existem vias rápidas. Não existe molho pronto nem enlatado instantâneo. Tem que curtir, tem que ir fundo, tem que mexer com o interior. Se não - nada feito. O deserto é a prática mais antiga e saudável do cristianismo. Mas é perigosa. Gera crescimento e uma certa independência de tutores. Traz autonomia. Enche o filho de Deus do Espírito Santo. E faz bem. Muito bem.

A comunidade é o local da interdependência. Não há hierarquias nem exercício de poder (entenda: dominação, manipulação e opressão). Na comunidade somos um. Em comunidade somos muitos. A comunidade é todos. Onde há comunidade há expressão de Jesus - união, dedicação, doação e serviço.

O amor é o amor. Ponto.

(a continuar)

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2.12.10

 

Lágrimas no Céu

Era fim de tarde. As cores, a intensidade da luz, o vento no rosto, a leveza do momento. Tudo era de uma beleza sem igual e única. Afinal estava entrando no Céu. Já não tinha mais idade para aquelas experiências fora do corpo. Era a minha hora. Era a nossa hora. A trombeta tinha tocado.

Logo percebi um tumulto controlado. Havia muito animo, e as lágrimas estavam sendo enxugadas. Toda uma galera de teólogos se reunia junto com Calvino e choravam copiosamente. Passei por perto, só para matar a minha santa curiosidade. Já não pecava mais.

Calvino com aquele forte sotaque franco suiço, falava a língua dos Céus. Pude entender bem. Ele dava uma bronca no pessoal que chegarar muito bem fundamentado. Suas manifestações, resumo a seguir:

- Desde quando o que escrevi e falei se compara às Escrituras?
- Já que vocês queriam seguir minhas palavras, por que não começar pelo "Sempre Reformando"?
- E que história era essa de me chamar de gigante, e de subir em meus ombros? Vocês me fizeram parecer ridículo diante do Homem.
- E por que, de tudo que é mais sagrado e verdadeiro, por que, por que, por que vocês valorizaram muito mais a Instituição, o Legalismo, a Hierarquia, o Patrulhamento, a Discórdia e a Prepotência. Graças a Deus que o sangue de Jesus nos purificou.
- E faça-me o favor, e que mania era aquela de perseguir e diminuir as mulheres, principalmente quando elas tinham algo a nos dizer ...

A fala continuava, mas como eu já tinha blogado sobre isso, me toquei e fui para a rodinha de Madre Teresa.

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